A ICM ME PROCESSA COM MEU DINHEIRO

A ICM ME PROCESSA COM MEU DINHEIRO

6 de março de 2023 0 Por Sólon Pereira

Meu dinheiro contra mim

Durante vinte anos entreguei à Igreja Cristã Maranata (ICM), TODOS OS MESES, 10% de toda a minha renda familiar (meu dízimo e da minha esposa, Roseli), inclusive o que nós recebíamos a título de férias, décimo terceiro e valores extras de trabalhos que realizamos (viagens a serviço, prêmio de trabalho científico que ganhei, negócios com veículos e etc.).Agora, a ICM usa meu dinheiro para me processar.

Além dos dízimos, eu e Roseli arcamos com todas as despesas das nossas viagens e evangelizações à serviço da ICM.

Sobre as evangelizações, diz respeito às igrejas em que estávamos servindo, eu como obreiro, diácono e pastor, e a Roseli como instrumentista, professora de jovens e responsável por grupos de Senhoras.

O detalhe é que as igrejas em que éramos colocados, à revelia de nossas vontades (“revelações”), eram sempre distantes de nossa casa, e boa parte do tempo eu dava assistência em uma igreja enquanto a Roseli servia em outra igreja, de modo que o custo com combustível e manutenção de veículo era dobrado.

Vale destacar que algumas dessas igrejas ficavam a 50 km de nossa casa, como era o caso da ICM de Planaltina do Goiás. Ou seja, a cada culto que eu conduzia ali, eram 100 km rodados com nosso carro, cuja manutenção e combustível era por nossa conta.

No caso das assistências em igrejas em outros Estados, a exemplo da assistência que dávamos nas cidades de Tocantins (Gurupi, Palmas e Paraíso), até mesmo em caso de acidente ou quebra de veículos dos obreiros/diáconos/pastores enviados, a igreja se esquivava, para não arcar com os prejuízos, como presenciei algumas vezes. Também, fui testemunha de um pastor que dormia no banco da igreja, para não onerar a ICM com custos de hotel.

Ou seja, nós éramos levados a economizar em tudo enquanto servíamos à Maranata e tínhamos de arcar com o máximo de despesas da igreja possível. Tudo isso para não usar o dinheiro da tesouraria da Igreja Maranata.

Mas, não foi só dinheiro que entregamos fartamente para a Igreja Cristã Maranata.

Ali entregamos os melhores anos de nossas vidas e os nossos serviços “voluntários”, como faxineiros, ajudantes de pedreiros, diaristas no pomar do Maanaim de Brasília, vigias de estacionamentos, instrumentistas, professores de instrumentos, tesoureiros, chefes de equipes de trabalhos em eventos (maanains e grandes evangelizações) e etc.

Na ICM, eu e Roseli contribuímos gratuitamente com 20 anos de serviços “voluntários”. Obviamente, esse “voluntariado” era praticamente uma obrigação.
Afinal, ai de quem não estivesse disponível para trabalhar para a “obra”! Esse, certamente perderia suas tão sonhadas e amadas funções e títulos conquistados na ICM, à base de muito voluntariado!

Se nossos serviços prestados à ICM nesses 20 anos fossem cobrados, equivaleriam a um ao que entregamos em forma de dízimos. Afinal, nossa hora de trabalho não é nada barata.

Fazendo alguns cálculos, sobre o que deixamos na ICM (dízimos, ofertas, tempo e serviço), certamente isso representaria um montante suficiente para comprar dois apartamentos de 3 quartos no Setor Noroeste, um dos melhores bairros de Brasília, onde o metro quadrado custa, em média, R$ 16.000,00.

O pior de tudo isso é o que vem a seguir.

Ao entregarmos nosso dinheiro, nossas ofertas, nosso tempo e nosso serviço à Igreja Cristã Maranata, imaginávamos que estávamos entregando esses valores a Deus. Isso é o que nos ensinaram desde os primeiros passos na ICM. Uma verdadeira confusão proposital entre Deus e a instituição religiosa, a qual recolhe o dinheiro, não faz o que Deus gostaria que fosse feito e ainda não presta contas do que fez com esse dinheiro.

Se o dinheiro fosse para Deus, teria, necessariamente, de ser usado exclusivamente para os propósitos de Deus e não para o enriquecimento e empoderamento da própria instituição e de seus líderes, que, ao que já assistimos, beneficiaram-se de negócios privados com a igreja para promoção e enriquecimento pessoal, como foi identificado no escândalo de corrupção que envolveu a liderança da Igreja Maranata.

Sobre isso, nos levantamentos do Ministério Público, foram identificadas diversas empresas de pastores da cúpula que faziam altos e lucrativos negócios com a ICM, alguns até com fornecimento de Notas Fiscais superfaturadas, para remunerar ilicitamente os participantes do esquema de corrupção.

Mas, não é só a corrupção que prova que o dinheiro não está sendo doado para Deus.

Quando a igreja prega uma mensagem herética, que não está de acordo com os propósitos de Deus, essa é a prova de que o dinheiro não foi para Deus. Afinal, Deus não quer dinheiro para ensinar heresias ao povo.

Quando a igreja usa o dinheiro para montar escolas, que oferecem seus serviços apenas para quem pode pagar, essa é a prova de que o dinheiro não foi para Deus. Afinal, o Deus da justiça não quer dinheiro para promover injustiça social ou discriminação entre ricos e pobres.

Quando a igreja não promove assistência fraternal e assistência social, essa é a prova de que o dinheiro não foi para Deus. Afinal, o Deus que tanto se preocupou com as viúvas, com os órfãos e com necessitados (estrangeiros), certamente não quer dinheiro para construir prédios e deixar essas pessoas desamparadas.

Quando a igreja não fornece cestas de alimentos para os membros em situação de desemprego, essa é a prova de que o dinheiro não foi para Deus. Afinal, o Deus que enviou maná do céu para alimentar o povo no deserto, certamente não quer dinheiro para construir templos e deixar seu povo passando fome nos momentos de crise.

Quando a igreja deixa de socorrer um membro que precisa de ajuda para comprar um remédio ou pagar consulta e exames médicos, essa é a prova de que o dinheiro não foi para Deus. Afinal, o Deus que cura as feridas do seu povo, não quer dinheiro para construir templos enquanto seu povo morre sem ter assistência à saúde.

E agora, o pior!

Quando a igreja custeia escritórios de advogados para promover ações judiciais contra ex-membros que questionam suas doutrinas e suas práticas religiosas, essa é a prova de que o dinheiro doado não foi para Deus. Afinal, o Deus de justiça, não quer dinheiro para promover injustiça e massacrar pessoas humildes em Tribunais de ímpios.

Agora, vejam só como as pessoas são enganadas. Elas são levadas a crer que a instituição religiosa é o próprio Deus.

Fomos ensinados que estávamos doando o dinheiro para Deus e, por isso, não era razoável pedir prestação de contas. Afinal, Deus não deve contas a ninguém.

A questão é que a instituição religiosa não é Deus!

Ou seja, toda instituição religiosa deveria prestar contas do que faz com o que recolhe dos seus membros, até mesmo como prova de que seus líderes são fieis e estão promovendo o evangelho do amor, da graça e da misericórdia, que é a vontade de Deus.

Ora, se a instituição recebeu doações para fazer a vontade de Deus na terra, nada mais justo que mostrar aos doadores que está usando o dinheiro exatamente para a realização da vontade de Deus, que é a promoção do evangelho do amor, da graça e da misericórdia, e que não está a ignorar a vontade de Deus e, pior ainda, a promover ações que são repudiadas por Deus.

Se alguma instituição se nega a prestar contas, essa é mais uma prova de que o dinheiro que recebeu dos membros não era para Deus, porque Deus não tem nada a esconder.

Ao contrário! Deus é luz e tudo o que Deus faz pode ser colocado à luz.

Quem não gosta da Luz é o Diabo, que vive no ambiente da escuridão, para enganar, para dissimular e para roubar.

Certa vez, o apóstolo Paulo, ao se referir ao tempo do fim, disse que “o dia do Senhor virá como ladrão à noite” (1Ts 5:2) exatamente porque quem gosta da escuridão são os ladrões.

Ou seja, quem não tem o que esconder, está na luz e presta contas.

De modo contrário, não se pode afastar a desconfiança sobre aqueles que escondem o que estão fazendo e preferem o ambiente das trevas, onde ninguém fica sabendo o que estão fazendo. Isso é o que podemos inferir sobre quem se nega a prestar contas.

Agora chegamos ao ponto do título desta publicação.

Nós (eu e a Roseli) doamos dinheiro, tempo e serviço para uma instituição que nos enganou!

Ela dizia que o dinheiro estava sendo usado para promover o evangelho e que ela era a “Obra do Espírito Santo de Deus” e seus líderes eram ungidos de Deus para representar tanto a “Obra de Deus” (ICM) como o próprio Deus na terra.

Por isso, doávamos sem pedir contas. Afinal, como já dissemos, Deus não nos deve contas.

Mas, os homens, sim! Esses deve prestar contas!

Então, ao descobrir que A IGREJA NÃO É DEUS, mas que recolheu nosso dinheiro e usou o nosso tempo e nosso serviço em nome de Deus, sem provar que estava realmente realizando a vontade de Deus, obviamente nos sentimos enganados, roubados e explorados.

Na verdade, uma igreja que não presta contas, deveria devolver todo o dinheiro que recolheu enquanto mantinha as pessoas debaixo de um grande engano.

Ora, se você deu dinheiro para uma pessoa comprar algo para você e essa pessoa, além de não comprar o que você pediu, não lhe diz o que fez com o dinheiro, nada mais justo que você peça seu dinheiro de volta!

Enquanto essa pessoa não fizer isso, ela está em dívida com você, ou seja, o seu dinheiro ainda está com ela!

E é exatamente esse o raciocínio que estou desenvolvendo para mostrar que a Igreja Maranata está usando o meu próprio dinheiro para me processar.

Ora, se eu entreguei meu dinheiro para a ICM promover o evangelho do amor, da graça e da misericórdia (vontade de Deus) e ela, além de não fazer isso, ainda não me diz o que fez com o dinheiro que eu entreguei, enquanto ela não me devolver o meu dinheiro, ela está de posse do que é meu. Afinal, eu não entreguei meu dinheiro para deixar desassistidas as pessoas enquanto a instituição se enriquece. E pior! Eu não entreguei o meu dinheiro para a ICM fazer o que Deus proíbe! Todos devem saber que o apóstolo Paulo, inspirado por Deus, deixou muito claro em sua primeira carta aos Coríntios, no capítulo 6, que um irmão não pode levar outro irmão para um Tribunal de ímpios. 

Então, quando a Maranata me processa, estando ela ainda com meu dinheiro (porque nunca me devolveu nada), em última análise, ela está usando o meu próprio dinheiro para me processar.

De modo semelhante, o apresentador de TV Danilo Gentili, em uma entrevista disse que uma mulher (política) o estava processando com seu próprio dinheiro, uma vez que ela, na condição de servidora pública, estava sendo paga com o dinheiro que ele entregou sob a forma de impostos.

O trecho dessa entrevista está no topo desta publicação.

Aproveitando o raciocínio desenvolvido por Danilo Gentili, mais uma vez podemos dizer que a Igreja Maranata está me processando com meu próprio dinheiro.

Vejam bem!

Eu sou um contribuinte e pago impostos sobre tudo o que compro e sobre tudo o que ganho. Logo, o dinheiro que o Estado usa para realizar suas políticas públicas tem minha parcela de contribuição financeira.

Então, quando a Igreja Maranata deixa de pagar impostos, sob o fundamento constitucional da imunidade tributária, ainda que a constituição federal não tenha vinculado essa imunidade a nenhum propósito específico, podemos inferir que a ideia implícita é a de incentivar as instituições com potencial de realizar algum tipo de prestação social, promovendo o bem-estar da comunidade, seja pela pregação do amor, da paz, da misericórdia, da bondade e da salvação, seja pela assistência social que muitas promovem.

Assim, quando eu vejo a Igreja Maranata se valendo desse benefício da imunidade tributária, que inclui o meu dinheiro, e não vejo essa igreja realizando ações sociais com o que ela arrecada dos seus membros, a impressão que eu fico é que a minha parcela de impostos está beneficiando a Maranata de alguma forma, mas sem a contrapartida que, a meu ver, seria necessária.

Agora vejam o que a Igreja Maranata faz com a minha parcela de imposto que eu entreguei para o Governo: em vez dela pregar o amor, a paz, o perdão, a misericórdia e promover ação social, ela me processa. 

Ou seja, mesmo a partir desse raciocínio do Danilo Gentili, sinto que a Igreja Cristã Maranata está usando o meu dinheiro para me processar.

Você não acha isso uma VERGONHA?