Bibliomancia

Bibliomancia

15 de dezembro de 2020 0 Por Sólon Pereira

Considerações preliminares

A consulta à palavra de Deus faz parte da doutrina criada pela Igreja Cristã Maranata e é utilizada para que em cada ação, individual ou coletiva, de seus membros se conheça a vontade de Deus sobre qualquer assunto. Ela tanto é utilizada para saber se Deus autoriza alguma coisa que se pretende fazer (comprar ou vender um bem, viajar, namorar, casar, batizar etc.), como é utilizada para confirmar se um dom espiritual procede de Deus ou não.

Por essa prática, Deus tem que ficar à disposição do homem, em todo o tempo, para respondê-lo na hora que ele desejar e sobre qualquer assunto, mesmo que a matéria esteja previamente revelada e autorizada pela palavra de Deus. Por exemplo, a bíblia nos ensina que a decisão do batismo nas águas é do homem que deseja ser batizado, bastando apenas que ele tenha sido devidamente informado sobre quem é Jesus (vida, obra e proposta de salvação) e esteja convencido de que é isso que ele deseja para si.

Mesmo assim, a ICM utiliza critérios outros que podem impedir o batismo. E mesmo depois de atendidos os citados critérios o homem ainda não pode ser batizado. Ele tem que passar por uma “consulta à palavra de Deus” para que se tenha a autorização divina de seu batismo.

Outro exemplo: a mulher que deseja se batizar na ICM, mas que utilize calça comprida, simplesmente não terá seu nome submetido à “consulta”, mesmo que ela atenda ao critérios bíblicos para ser batizada. Somente depois que ela passar vestir somente saia ou vestido é que será considerada apta ao crivo da “consulta à palavra de Deus” para saber se Deus permite que ela seja batizada. Evidentemente, isso não confere com os ensinamentos bíblicos sobre o assunto, senão vejamos.

34 Então, o eunuco disse a Filipe: Peço-te que me expliques a quem se refere o profeta. Fala de si mesmo ou de algum outro? 35 Então, Filipe explicou; e, começando por esta passagem da Escritura, anunciou-lhe a Jesus. 36 Seguindo eles caminho fora, chegando a certo lugar onde havia água, disse o eunuco: Eis aqui água; que impede que seja eu batizado? 37 Filipe respondeu: É lícito, se crês de todo o coração. E, respondendo ele, disse: Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus. 38  Então, mandou parar o carro, ambos desceram à água, e Filipe batizou o eunuco.” (Atos 8:34-38 RA)

Assim, pelo método criado pela Igreja Cristã Maranata, o critério bíblico “revelado e explícito” não é suficiente. A palavra de Deus perde completamente o seu valor neste caso.

Como consultar a Deus, segundo a Igreja Cristã Maranata

Na prática, a consulta à palavra é realizada da seguinte forma: após uma oração precedida invariavelmente da expressão “clamamos pelo sangue de Jesus”, o orador pergunta a Deus se aquela visão, ou revelação, procede do seu Espírito Santo. Todos os presentes abrem aleatoriamente suas bíblias e colocam o dedo em um versículo, também de modo aleatório.

Seguindo essa doutrina, aqueles que sortearam um versículo “positivo” têm preferência na leitura. Positivo é qualquer texto de bênção, aquele que se refere a sucesso, vitória, consolação ou algum outro fato considerado bom. Apenas três textos devem ser lidos e se dois deles, no mínimo, forem “positivos” é porque Deus confirmou que aquele “dom espiritual” procede do seu Espírito Santo.

Evidentemente, em um grupo com muitas pessoas raramente todos os textos serão “negativos”. O texto “negativo” é aquele que se refira a dificuldades, desobediência, maldição, morte ou algum fato considerado ruim. Como a preferência da leitura é dos textos positivos, quase sempre haverá, no mínimo, dois textos positivos.

Assim, fica fácil aprovar o que se quer e rejeitar o que se quer.

Quando a consulta é individual e o consulente gostaria de ouvir Deus dizer “sim”, basta abrir a bíblia no meio, onde estão situados os salmos. Quando se espera que o Senhor diga “não”, basta abrir a bíblia um pouco depois do seu meio, onde se encontram os livros dos profetas e assim por diante.

É preciso muita sinceridade para admitir isso.

Ausência de fundamentação bíblica para a consulta à palavra

Apesar de ser uma das primeiras doutrinas que um novo membro aprende quando ingressa na Igreja Cristã Maranata, curiosamente, as apostilas de seu seminário não tratam desta matéria. Provavelmente, porque temem a exposição, já que sabem o quanto essa doutrina é repudiada pelo meio evangélico.

Mas, como eu já dei aulas na igreja sobre essa matéria, vou apresentar aqui os argumentos bíblicos que tentam defender essa prática e em seguida demonstrar a razão pela qual não se pode aplicá-los à consulta à palavra de Deus, muito menos afirmar ser isso uma doutrina bíblica.

Deus pode falar do modo como quiser, até mesmo por uma abertura aleatória da bíblia, mas isso seria uma exceção e não uma regra ou doutrina, segundo o ensinamento bíblico. Deus é Deus e não depende das nossas regras para agir. Se Ele quiser falar conosco, falará de qualquer jeito, seja pela abertura da bíblia, seja por um mensageiro, seja por uma placa, seja por uma mula, seja por um livro evangélico etc. Mas, isso deve ocorrer quando Deus quiser e não quando o homem determinar. Se o homem pode receber em seu espírito uma ordem de Deus para abrir a bíblia, ele também poderá julgar essa manifestação espiritual.

A consulta a Deus no Velho Testamento

O tempo dos patriarcas e a consulta a Deus

No tempo dos patriarcas, encontramos o primeiro registro que se tem na bíblia sobre perguntar algo a Deus. A passagem está no livro de Gênesis, quando Rebeca estava intrigada com a revolução que ocorria em seu ventre, conforme veremos no trecho a seguir:

“21 Isaque orou ao SENHOR por sua mulher, porque ela era estéril; e o SENHOR lhe ouviu as orações, e Rebeca, sua mulher, concebeu. 22 Os filhos lutavam no ventre dela; então, disse: Se é assim, por que vivo eu? E consultou ao SENHOR. 23 Respondeu-lhe o SENHOR: Duas nações há no teu ventre, dois povos, nascidos de ti, se dividirão: um povo será mais forte que o outro, e o mais velho servirá ao mais moço.” (Gênesis 25:21-23 RA)

O mesmo texto, na versão corrigida de Almeida, diz que Rebeca “foi-se a perguntar ao Senhor”, o que nos dá uma noção mais coerente com o contexto. A resposta foi profética e detalhada, provavelmente trazida a ela por sonho. Se fosse por Anjo, provavelmente isso seria registrado, como em passagens semelhantes. Seja como for, não há elementos no texto para deduzirmos que Rebeca usou qualquer método místico para ouvir a Deus, impondo-lhe o dever de responde-la naquele momento. A conclusão é: ela orou a Deus, colocando sua angústia diante Dele e Ele a respondeu, provavelmente por sonho, porque era do interesse de Deus falar com ela naquele momento.

No que se refere à prática de perguntar a Deus, no Velho Testamento, há algumas passagens em que o povo de Deus buscava conselho do Senhor por meio de seus profetas, para saber a Sua vontade em questões específicas, conforme veremos a seguir.

A consulta a Deus no tempo de Moisés e da Lei

No tempo de Moisés, temos uma passagem que nos conta que o povo vinha a ele para consultar a Deus sobre suas questões e disputas pessoais. Mas, no mesmo texto, Moisés deixa claro que tudo o que ele fazia era declarar a justiça segundo os estatutos e as leis de Deus. Ou seja, ao analisar uma demanda, Moisés a resolvia proferindo qual era a palavra de Deus sobre aquele assunto. E ninguém melhor que Moisés para dizer o que estava ou não em conformidade com a palavra e a vontade de Deus, uma vez que em seu tempo o conteúdo da palavra de Deus era transmitido oralmente e, portanto, dependia de alguém que tivesse o conhecimento da vontade de Deus guardado em sua mente e coração, senão vejamos:

“14 Vendo, pois, o sogro de Moisés tudo o que ele fazia ao povo, disse: Que é isto que fazes ao povo? Por que te assentas só, e todo o povo está em pé diante de ti, desde a manhã até ao pôr-do-sol? 15  Respondeu Moisés a seu sogro: É porque o povo me vem a mim para consultar a Deus; 16  quando tem alguma questão, vem a mim, para que eu julgue entre um e outro e lhes declare os estatutos de Deus e as suas leis.” (Êxodo 18:14-16 RA)

Urim e Tumim

Primeiramente, é importante afirmar que tudo o que se sabe sobre o Urim e Tumim é que eram coisas (ninguém sabe exatamente o que) colocadas sobre a estola sacerdotal do Sumo Sacerdote, mais precisamente no peitoral, e que essa estola completa deveria ser usada no dia em que ele entrasse no santo dos santos para a sua ministração, que ocorria uma única vez ao ano, no dia da expiação, conforme se vê a seguir:

“Também porás no peitoral do juízo o Urim e o Tumim, para que estejam sobre o coração de Arão, quando entrar perante o SENHOR; assim, Arão [Sumo Sacerdote] levará o juízo dos filhos de Israel sobre o seu coração diante do SENHOR continuamente.” (Êxodo 28:30 RA)

“7 Vestiu a Arão da túnica, cingiu-o com o cinto e pôs sobre ele a sobrepeliz; também pôs sobre ele a estola sacerdotal, e o cingiu com o cinto de obra esmerada da estola sacerdotal, e o ajustou com ele. 8  Depois, lhe colocou o peitoral, pondo no peitoral o Urim e o Tumim;” (Levítico 8:7-8 RA)

“32 Quem for ungido e consagrado para oficiar como sacerdote no lugar de seu pai fará a expiação, havendo posto as vestes de linho, as vestes santas; 33  fará expiação pelo santuário, pela tenda da congregação e pelo altar;também a fará pelos sacerdotes e por todo o povo da congregação. 34  Isto vos será por estatuto perpétuo, para fazer expiação uma vez por ano pelos filhos de Israel, por causa dos seus pecados. E fez Arão como o SENHOR ordenara a Moisés.” (Levítico 16:32-34 RA)

Há quem diga que o Urim e o Tumim eram um ou mais acessórios do éfode. Segundo afirmam, eram destacáveis, de modo que podiam ser usados à maneira de dados. E pelo modo como caíam, revelavam a vontade de Deus. Esse pensamento, entretanto, não possui sustentação bíblica.

Urim e Tumim (luz e verdade) eram símbolos que faziam parte do éfode vestido pelo Sumo Sacerdote. Esses símbolos eram sinais que indicavam que ele estava investido de autoridade para falar da parte de Deus em com verdade e clareza. A resposta dada pelo Sumo Sacerdote dependia de uma instrução dada à sua mente. Não consistia em apenas um “sim” ou “não”, afastando, desse modo, a crença de que o Urim e Tumim seriam pedras de cores diferentes “jogadas” como dados.

Também, há quem afirme que a bíblia faz duas referências ao lançamento de sortes, em íntima conexão com as consultas do Urim e Tumim. Seguem os textos:

“19 Mas vós rejeitastes, hoje, a vosso Deus, que vos livrou de todos os vossos males e trabalhos, e lhe dissestes: Não! Mas constitui um rei sobre nós. Agora, pois, ponde-vos perante o SENHOR, pelas vossas tribos e pelos vossos grupos de milhares. 20 Tendo Samuel feito chegar todas as tribos, foi indicada por sorte a de Benjamim. 21  Tendo feito chegar a tribo de Benjamim pelas suas famílias, foi indicada a família de Matri; e dela foi indicado Saul, filho de Quis. Mas, quando o procuraram, não podia ser encontrado. 22  Então, tornaram a perguntar ao SENHOR se aquele homem viera ali. Respondeu o SENHOR: Está aí escondido entre a bagagem.” (1 Samuel 10:19-22 RA)

“37 Disse, porém, o sacerdote: Cheguemo-nos aqui a Deus. Então, consultou Saul a Deus, dizendo: Descerei no encalço dos filisteus? Entregá-los-ás nas mãos de Israel? Porém aquele dia Deus não lhe respondeu. 38  Então, disse Saul: Chegai-vos para aqui, todos os chefes do povo, e informai-vos, e vede qual o pecado que, hoje, se cometeu. 39  Porque tão certo como vive o SENHOR, que salva a Israel, ainda que com meu filho Jônatas esteja a culpa, seja morto. Porém nenhum de todo o povo lhe respondeu. 40  Disse mais a todo o Israel: Vós estareis de um lado, e eu e meu filho Jônatas, do outro. Então, disse o povo a Saul: Faze o que bem te parecer. 41  Falou, pois, Saul ao SENHOR, Deus de Israel: Mostra a verdade. Então, Jônatas e Saul foram indicados por sorte, e o povo saiu livre. 42  Disse Saul: Lançai a sorte entre mim e Jônatas, meu filho. E foi indicado Jônatas.” (1 Samuel 14:37-42 RA)

Na segunda passagem (14:37-42), Saul rogou ao Senhor que lhe desse a conhecer por meio da sorte porque Deus não o havia respondido inicialmente (por profeta?). O fato é que a palavra usada no original é thamim; que se pronunciava thummim. Por essa razão, alguns acreditam que o Urim e Tumim eram peças que permitiam o lançamento de sortes. Mas nas duas passagens citadas, o lançar as sortes é ato distinto de consultar o Senhor (por profeta), e se realizava para propósito diferente daquele que pedia conselhos.

Para eliminar as confusões a esse respeito, basta entender que o Urim e Tumim não faziam manifestações exteriores por si mesmos. Antes, eram símbolos. O sumo sacerdote vestia o éfode com o Urim e Tumim, sinais de sua investidura para obter a luz e a verdade, como as duas palavras indicam, a fim de que pudesse buscar o conselho do Senhor da maneira por Ele indicada.

Humildemente, o consulente punha diante de Deus, por meio do Sumo Sacerdote, a sua petição. A resposta vinha à mente do Sumo Sacerdote, de modo um pouco diferente do que ocorria com o profeta. Os símbolos indicariam que a luz e a verdade estariam com o Sumo Sacerdote e a resposta consistia em uma iluminação interior, sem nenhum sinal exterior em paralelo como no caso das revelações advindas aos profetas, que conheciam a cultura, o ambiente, os fatos e, principalmente, a vontade já declarada de Deus para o seu povo.

Em 1 Samuel 28:6, há outra referência ao Urim e Tumim no dias do Rei Saul, quando ele pretendeu ouvir o Senhor, mas nada lhe foi respondido.

“Consultou Saul ao SENHOR, porém o SENHOR não lhe respondeu, nem por sonhos, nem por Urim, nem por profetas.” (1 Samuel 28:6 RA)

Por essa passagem, já podemos nos certificar que o Urim e Tumim não eram instrumentos que falavam por si sós, além do que não obrigavam a uma resposta sempre que fossem usados.

Referida passagem é suficiente para mostrar que a mensagem de Deus dependia de uma instrução dada à mente do Sacerdote e não consistia em apenas um “sim” ou “não”, afastando, desse modo, a crença de que o Urim e Tumim seriam pedras de cores diferentes “jogadas” como dados. Se fosse assim, Saul teria necessariamente uma resposta, mas não teve.

É preciso observar que o único versículo bíblico que indica o Urim e Tumim como oráculo de Deus, na separação de Josué para sua futura missão como líder nacional, fica muito claro que o canal da mensagem de Deus seria o Sumo Sacerdote e não o instrumento de consulta em si, conforme se vê a seguir:

“18 Disse o SENHOR a Moisés: Toma Josué, filho de Num, homem em quem há o Espírito, e impõe-lhe as mãos; 19 apresenta-o perante Eleazar, o sacerdote, e perante toda a congregação; e dá-lhe, à vista deles, as tuas ordens. 20  Põe sobre ele da tua autoridade, para que lhe obedeça toda a congregação dos filhos de Israel. 21  Apresentar-se-á perante Eleazar, o sacerdote, o qual por ele[Eleazar] consultará, segundo o juízo do Urim, perante o SENHOR; segundo a sua palavra, [de Deus dada a Eleazar] sairão e, segundo a sua palavra, entrarão, ele, e todos os filhos de Israel com ele, e toda a congregação.” (Números 27:18-21 RA)

As demais referências bíblicas ao Urim e Tumim nada falam sobre oráculo de Deus, mas sobre a necessidade de sua presença na Estola Sacerdotal, como característica completa da revelação de Deus àquele que está designado para um mister único diante do Senhor: o Sumo Sacerdócio, senão vejamos:

“8 De Levi disse: Dá, ó Deus, o teu Tumim e o teu Urim para o homem, teu fidedigno, que tu provaste em Massá, com quem contendeste nas águas de Meribá; 9  aquele que disse a seu pai e a sua mãe: Nunca os vi; e não conheceu a seus irmãos e não estimou a seus filhos, pois guardou a tua palavra e observou a tua aliança. 10  Ensinou os teus juízos a Jacó e a tua lei, a Israel; ofereceu incenso às tuas narinas e holocausto, sobre o teu altar. 11  Abençoa o seu poder, ó SENHOR, e aceita a obra das suas mãos, fere os lombos dos que se levantam contra ele e o aborrecem, para que nunca mais se levantem.” (Deuteronômio 33:8-11 RA)

“O governador lhes disse que não comessem das coisas sagradas, até que se levantasse um sacerdote com Urim e Tumim.” (Esdras 2:63 RA)

“O governador lhes disse que não comessem das coisas sagradas, até que se levantasse um sacerdote com Urim e Tumim.” (Neemias 7:65 RA)

É claro que há outras referências atribuídas a respostas do Urim e Tumim, mas em nenhuma delas há referência expressa dizendo que a consulta foi realizada por esse instrumento.

Em conhecimento extra-bíblico, advindo de literaturas sobre o assunto, temos que a utilização do Urim e Tumim perdurou até a destruição do Templo por Nabucodonosor e que apenas questões nacionais e relevantes eram submetidas ao Sumo Sacerdote, a exemplo da passagem do Rei Saul.  De fato, não há como imaginarmos os milhões de habitantes de Israel indo a Jerusalém para consultar a Deus se podiam realizar um negócio pessoal.

Lançamento de sortes

Sobre o lançamento de sortes, é preciso esclarecer que essa era uma prática pagã daquele tempo, mas foi orientada por Deus em duas questões específicas e temporárias, a saber: para a designação do bode emissário e para repartição da terra conquistada entre as tribos de Israel:

“Lançará sortes sobre os dois bodes: uma, para o SENHOR, e a outra, para o bode emissário.” (Levítico 16:8 RA)

“Todavia, a terra se repartirá por sortes; segundo os nomes das tribos de seus pais, a herdarão.” (Números 26:55 RA)

Desse modo, podemos entender que tal procedimento só deve ser utilizado por orientação específica de Deus. Se Deus mandar explicitamente, temos que obedecer. Mas, vale observar que em nenhuma dessas passagens há relação com uma atividade mística, mas como um modo de escolha impessoal.

De modo semelhante, no tempo da reconstrução dos muros de Jerusalém, houve um lançamento de sortes para a distribuição de ofertas de lenha a serem trazidas à casa de Deus. Mas, é bom que se observe que isso foi feito apenas para uma distribuição isenta de preferências pessoais e não para que se soubesse a vontade de Deus, senão vejamos:

“Nós, os sacerdotes, os levitas e o povo deitamos sortes acerca da oferta da lenha que se havia de trazer à casa do nosso Deus, segundo as nossas famílias, a tempos determinados, de ano em ano, para se queimar sobre o altar do SENHOR, nosso Deus, como está escrito na Lei.” (Neemias 10:34 RA)

O lançamento de sortes, no Velho Testamento, só foi praticado nos casos em que Deus orientou expressamente e com fins de isenção pessoal, mas não como uma prática para forçar Deus a falar acerca de um assunto. Na passagem do profeta Jonas, a sorte lançada pelos tripulantes do navio era uma prática pagã, mas naquele momento Deus tinha um propósito a realizar e essa foi a maneira Dele cumpri-la. Do mesmo modo que o Senhor alterou “o tempo e o mar”, por sobre o qual navegavam justos e injustos, Deus interferiu em uma prática utilizada pelos homens pagãos daquele tempo, para fazer prevalecer o seu propósito.

O que se pode concluir a respeito do lançamento de sortes, no Velho Testamento, é que só foi praticado nos casos em que Deus orientou expressamente e com fins de se determinar uma distribuição de terras e tarefas com isenção de preferências pessoais, mas não como uma prática para forçar Deus a falar acerca de um assunto. É claro que não podemos desprezar a soberania de Deus sobre todas as coisas e, portanto, a distribuição da terra deve ter acontecido respeitando a sua vontade permissiva ou permissão, mas, no plano terreno, só podemos concluir que a distribuição impessoal era a solução mais justa e consensual para se manter a paz social. Seja como for, não há espaço nos textos citados para entendermos que Deus estava orientando uma prática mística para o povo, como uma forma sobrenatural de se conhecer o que está oculto, até porque Deus abomina a adivinhação.

“Também queimaram a seus filhos e a suas filhas como sacrifício, deram-se à prática de adivinhações e criam em agouros; e venderam-se para fazer o que era mau perante o SENHOR, para o provocarem à ira.” (2 Reis 17:17 RA)

Entretanto, vamos deixar claro: o propósito de Deus está acima de qualquer outro. Quando Deus quer fazer algo, tudo conspirará para que a sua vontade prevaleça.

“A sorte se lança no regaço, mas do SENHOR procede toda decisão.” (Provérbios 16:33 RA)

Foi isso que ocorreu com o profeta Jonas, que, tentando fugir de sua obrigação para com o Senhor, foi interceptado e lançado onde Deus o queria. A sorte lançada pelos tripulantes do navio em que ele estava era uma prática pagã, mas naquele momento Deus tinha um propósito a realizar e essa foi a maneira Dele cumpri-la. Então, Deus interferiu naquela ação dos pagãos para cumprir o seu propósito.

“5 Então, os marinheiros, cheios de medo, clamavam cada um ao seu deus e lançavam ao mar a carga que estava no navio, para o aliviarem do peso dela. Jonas, porém, havia descido ao porão e se deitado; e dormia profundamente. 6 Chegou-se a ele o mestre do navio e lhe disse: Que se passa contigo? Agarrado no sono? Levanta-te, invoca o teu deus; talvez, assim, esse deus se lembre de nós, para que não pereçamos. 7 E diziam uns aos outros: Vinde, e lancemos sortes, para que saibamos por causa de quem nos sobreveio este mal. E lançaram sortes, e a sorte caiu sobre Jonas.” (Jonas 1:5-7 RA)

Essa passagem de Jonas jamais pode ser entendida como uma prática autorizada por Deus. Do mesmo modo que Deus alterou “o tempo e o mar”, por sobre o qual navegavam justos e injustos, Deus interferiu em uma prática utilizada pelos homens pagãos daquele tempo que buscavam resposta de seus deuses.

O tempo dos juízes e a consulta a Deus

No tempo dos Juízes, há uma passagem onde o povo de Israel se dirigiu a Betel para consultar a Deus (Jz 20:18) sobre uma guerra a ser travada. Entretanto, o texto não diz por que meio ou em que sentido se realizou aquela consulta, onde a resposta de Deus não foi apenas um “sim” ou “não”, mas indicou qual a tribo sairia primeiramente à batalha. O mesmo ocorre quando o povo foi a Betel para saber quem iniciaria a guerra contra os cananeus. Com base nessas passagens, percebemos que a consulta foi realizada nos mesmos termos que a consulta feita a Moisés – procurou-se um homem de Deus (profeta), conhecedor da palavra do Senhor para indicar a melhor solução ao caso.

“1 Depois da morte de Josué, os filhos de Israel consultaram o SENHOR, dizendo: Quem dentre nós, primeiro, subirá aos cananeus para pelejar contra eles? 2  Respondeu o SENHOR: Judá subirá; eis que nas suas mãos entreguei a terra.” (Juízes 1:1-2 RA)

“E levantaram-se os filhos de Israel, e subiram a Betel; e consultaram a Deus, dizendo: Quem dentre nós subirá primeiro a pelejar contra Benjamim? E disse o SENHOR: Judá subirá primeiro.” (Juízes 20:18)

Mais uma vez notamos que Deus orientava seu povo por meio de profetas sobre questões nacionais e relevantes, e não como uma forma de orientação individual sobre os anseios, dúvidas ou projetos pessoais.

O tempo de Davi e a consulta a Deus

No tempo de Davi, onde há o maior número de registro desse tipo de procedimento, notaremos que todas as consultas foram feitas em relação a alguma questão nacional, de vida ou morte, tal como ocorrido na passagem de Juízes 20:18. O livro de Samuel traz mais luz sobre esse tipo de prática e esclarece, inclusive, qual era o instrumento utilizado nas consultas – o profeta ou o Sumo Sacerdote, visto que havia orientações nas respostas que não poderiam ser transmitidas pelo simples lançamento de sorte:

“(Antigamente em Israel, indo alguém consultar a Deus, dizia assim: Vinde, e vamos ao vidente; porque ao profeta de hoje, antigamente se chamava vidente).” (1Sm 9:9)

Vejamos, a seguir, os textos sobre as consultas realizadas por Davi, que se repetem no livro das Crônicas:

Consultou Davi ao SENHOR, dizendo: Irei eu e ferirei estes filisteus? Respondeu o SENHOR a Davi: Vai, e ferirás os filisteus, e livrarás Queila.” (…) “Então, Davi tornou a consultar o SENHOR, e o SENHOR lhe respondeu e disse: Dispõe-te, desce a Queila, porque te dou os filisteus nas tuas mãos.” (1 Samuel 23:2,4 RA)

 “Então, consultou Davi ao SENHOR, dizendo: Perseguirei eu o bando? Alcançá-lo-ei? Respondeu-lhe o SENHOR: Persegue-o, porque, de fato, o alcançarás e tudo libertarás.” (1 Samuel 30:8 RA)

“Depois disto, consultou Davi ao SENHOR, dizendo: Subirei a alguma das cidades de Judá? Respondeu-lhe o SENHOR: Sobe. Perguntou Davi: Para onde subirei? Respondeu o SENHOR: Para Hebrom.” [lá assumiu o governo] (2 Samuel 2:1 RA)

Davi consultou ao SENHOR, dizendo: Subirei contra os filisteus? Entregar-mos-ás nas mãos? Respondeu-lhe o SENHOR: Sobe, porque, certamente, entregarei os filisteus nas tuas mãos.” (2 Samuel 5:19 RA)

Davi consultou ao SENHOR, e este lhe respondeu: Não subirás; rodeia por detrás deles e ataca-os por defronte das amoreiras.” (2 Samuel 5:23 RA)

“Houve, em dias de Davi, uma fome de três anos consecutivos. Davi consultou ao SENHOR, e o SENHOR lhe disse: Há culpa de sangue sobre Saul e sobre a sua casa, porque ele matou os gibeonitas.” (2 Samuel 21:1 RA)

Em aproximadamente dois séculos do tempo dos Juízes e nos quarenta anos de reinado de Davi, simplesmente não há registros bíblicos de consulta a Deus para questões pessoais. Somente questões nacionais relevantes, especialmente envolvendo vida ou morte, foram submetidas a um profeta para que se ouvisse um conselho de Deus.

Tanto no tempo dos Juízes como no tempo dos reis, simplesmente não há registros bíblicos de consulta a Deus para questões pessoais, mas somente para questões nacionais relevantes, especialmente envolvendo vida ou morte. As consultas realizadas seguiam os mesmos moldes da consulta feita no tempo de Moisés: procurava-se um homem de Deus (profeta), conhecedor da palavra do Senhor para indicar a melhor solução ao caso. A resposta não era “sim ou não”, mas uma orientação vinda do profeta.

Nem mesmo quando Davi fugia de Saul e foi acolhido pelo sacerdote Aimeleque, ocasião em que recebeu a espada de Golias, tratou-se de uma questão pessoal. Na verdade, tratava-se de uma questão nacional, pois o futuro rei estava sendo preservado para assumir o trono de Israel.

“9 Então, respondeu Doegue, o edomita, que também estava com os servos de Saul, e disse: Vi o filho de Jessé chegar a Nobe, a Aimeleque, filho de Aitube, 10  e como Aimeleque, a pedido dele, consultou o SENHOR, e lhe fez provisões, e lhe deu a espada de Golias, o filisteu.” (1 Samuel 22:9-10 RA)

Também, é importante registrar que Deus não está obrigado a responder ao homem ou falar com ele na hora que ele quiser, independente da situação em que se encontre, tal como se pretende fazer nos dias atuais. Vejamos o exemplo de Saul:

“Disse, porém, o sacerdote: Cheguemo-nos aqui a Deus. Então, consultou Saul a Deus, dizendo: Descerei no encalço dos filisteus? Entregá-los-ás nas mãos de Israel? Porém aquele dia Deus não lhe respondeu.” (1 Samuel 14:37 RA)

Consultou Saul ao SENHOR, porém o SENHOR não lhe respondeu, nem por sonhos, nem por Urim, nem por profetas.” (1 Samuel 28:6 RA)

Por fim, devemos lembrar que quando Jeroboão enviou sua mulher a consultar o profeta Aías, para saber se seu filho que estava doente se recuperaria (questão pessoal), o Senhor aproveitou aquela oportunidade para enviar sua mensagem ao Rei sobre toda a sua prática condenável diante Dele. Em vez de ser um oráculo para questão pessoal do Rei, aproveitou-se uma oportunidade para fazer chegar ao Rei a palavra do Senhor sobre outras questões nacionais, além de proferir uma sentença sobre a situação do menino, conforme se vê a seguir:

“5  Porém o SENHOR disse a Aías: Eis que a mulher de Jeroboão vem consultar-te sobre seu filho, que está doente. (…) 7 Vai e dize a Jeroboão: Assim diz o SENHOR, Deus de Israel: Porquanto te levantei do meio do povo, e te fiz príncipe sobre o meu povo de Israel, 8  e tirei o reino da casa de Davi, e to entreguei, e tu não foste como Davi, meu servo, que guardou os meus mandamentos e andou após mim de todo o seu coração, para fazer somente o que parecia reto aos meus olhos; 9  antes, fizeste o mal, pior do que todos os que foram antes de ti, e fizeste outros deuses e imagens de fundição, para provocar-me à ira, e me viraste as costas; 10  portanto, eis que trarei o mal sobre a casa de Jeroboão, e eliminarei de Jeroboão todo e qualquer do sexo masculino, tanto o escravo como o livre, e lançarei fora os descendentes da casa de Jeroboão, como se lança fora o esterco, até que, de todo, ela se acabe. 11 Quem morrer a Jeroboão na cidade, os cães o comerão, e o que morrer no campo aberto, as aves do céu o comerão, porque o SENHOR o disse. 12 Tu, pois, dispõe-te e vai para tua casa; quando puseres os pés na cidade, o menino morrerá.” (1 Reis 14:5-12 RA)

No tempo dos Reis, após Davi, vemos que a prática de se consultar a Deus, também em questões nacionais, era comum, mas como a corrupção era constante, havia nos palácios e fora dele profetas profissionais, corrompidos pela corte e que somente falavam segundo o coração do Rei, conforme veremos a seguir:

“6 Então, o rei de Israel ajuntou os profetas, cerca de quatrocentos homens, e lhes disse: Irei à peleja contra Ramote-Gileade ou deixarei de ir? Eles disseram: Sobe, porque o Senhor a entregará nas mãos do rei. 7  Disse, porém, Josafá: Não há aqui ainda algum profeta do SENHOR para o consultarmos? 8  Respondeu o rei de Israel a Josafá: Há um ainda, pelo qual se pode consultar o SENHOR, porém eu o aborreço, porque nunca profetiza de mim o que é bom, mas somente o que é mau. Este é Micaías, filho de Inlá. Disse Josafá: Não fale o rei assim.” (1 Reis 22:6-8 RA)

A conclusão que podemos chegar dessas passagens do Velho Testamento que se referem à consulta a Deus são as seguintes:

  1. as consultas a Deus eram realizadas apenas para questões nacionais relevantes ou de vida ou morte;
  2. Somente o sumo sacerdote podia consultar o Senhor por meio do Urim e Tumim. Ao que nos indica o texto de Números 27:18-21, Deus falava com ele do mesmo modo que falava com um profeta, não se tratando de uma resposta “sim” ou “não”;
  3. O meio comum de se consultar a Deus é por meio de seus profetas ou homens designados por Deus para falar os seus estatutos;
  4. Deus não pode ser forçado a responder quando não quer falar.

O Novo Testamento e a consulta a Deus

No tempo do Novo Testamento, veremos que a prática de consulta a Deus não mais existia nos moldes do Velho Testamento. Tudo que se tem após Jesus é uma ação do Espírito Santo de Deus inspirando o homem ou o impelindo, senão vejamos:

1 Havia na igreja de Antioquia profetas e mestres: Barnabé, Simeão, por sobrenome Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, colaço de Herodes, o tetrarca, e Saulo. 2 E, servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado. 3 Então, jejuando, e orando, e impondo sobre eles as mãos, os despediram. 4  Enviados, pois, pelo Espírito Santo, desceram a Selêucia e dali navegaram para Chipre.” (Atos 13:1-4 RA)

4 Encontrando os discípulos, permanecemos lá durante sete dias; e eles, movidos pelo Espírito, recomendavam a Paulo que não fosse a Jerusalém. 5 Passados aqueles dias, tendo-nos retirado, prosseguimos viagem, acompanhados por todos, cada um com sua mulher e filhos, até fora da cidade; ajoelhados na praia, oramos. 6 E, despedindo-nos uns dos outros, então, embarcamos; e eles voltaram para casa.” (Atos 21:4-6 RA)

Como se pode notar, após uma ação do Espírito Santo de Deus, não houve qualquer consulta para a confirmação da palavra de Deus. Eles apenas se mantiveram em jejum e oração e julgaram que aquela era, de fato, a vontade do Senhor.

Se Jesus quisesse que sua igreja consultasse a palavra de Deus, como é feito hoje pela Igreja Cristã Maranata, ele teria dito isso aos seus discípulos, orientando-os a abrir aleatoriamente os escritos dos pergaminhos do Velho Testamento que já existiam. Se o Espírito Santo de Deus quisesse que sua igreja consultasse a palavra (aleatoriamente) para tratar de seus assuntos pessoais, certamente teria revelado isso a algum dos apóstolos e isso constaria de alguma das cartas que doutrinaram a igreja no primeiro século da era cristã. Seria isso algo difícil para Deus dizer naquele tempo, caso fosse algo imprescindível à igreja? 

A consulta a palavra de Deus e o dom de discernimento de espíritos

Consultar a palavra de Deus, caracteriza uma baixa compreensão do Velho Testamento e indica uma fuga dos princípios do Novo Testamento, além de anular por completo o dom do discernimento de espíritos (1 Cor 12:10). Esse dom não é o que comumente fazem dele: um dom de compreensão ou interpretação de visões. Discernimento de espíritos é a capacidade para, sem qualquer outro auxílio, identificar uma ação do Espírito Santo de Deus ou de outro espírito qualquer, seja humano ou maligno.

Ora, se para saber se uma “visão” procede do Espírito Santo de Deus alguém faz uma consulta bíblica aleatória, julga o versículo sorteado e em seguida tenta interpretar a “visão’’, para que servirá, então, o dom de discernimento de espíritos?

Há uma passagem no livro de Atos dos Apóstolos que nos mostra que após Ágabo apresentar uma ilustração e mensagem sobre o destino de Paulo em Jerusalém, muitos interpretaram que aquela profecia poderia ser evitada se Paulo simplesmente não fosse para Jerusalém.

Ninguém procurou consultar a Deus para saber se aquela profecia vinha do Senhor: todos discerniram que procedia do Espírito de Deus. Entretanto, falharam ao tentar interpretar a vontade de Deus. Inicialmente, queriam que Paulo não fosse para Jerusalém, a fim de evitar o que havia sido anunciado pelo profeta. Mas, Paulo os fez entender que aquela era a vontade de Deus, exatamente como havia sido anunciada pelo profeta. Segue o texto para nossa melhor compreensão:

10 Demorando-nos ali alguns dias, desceu da Judéia um profeta chamado Ágabo; 11  e, vindo ter conosco, tomando o cinto de Paulo, ligando com ele os próprios pés e mãos, declarou: Isto diz o Espírito Santo: Assim os judeus, em Jerusalém, farão ao dono deste cinto e o entregarão nas mãos dos gentios. 12  Quando ouvimos estas palavras, tanto nós como os daquele lugar, rogamos a Paulo que não subisse a Jerusalém. 13  Então, ele respondeu: Que fazeis chorando e quebrantando-me o coração? Pois estou pronto não só para ser preso, mas até para morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus. 14  Como, porém, não o persuadimos, conformados, dissemos: Faça-se a vontade do Senhor! (Atos 21:10-14 RA)

Se a igreja de Jesus estiver santificada, em obediência e comunhão com Ele, estará em plenas condições de julgar os espíritos. Assim, o dom de discernimento de espíritos terá alguma utilidade em seu meio.

A consulta à palavra de Deus e a escolha de Matias

Mas, e quanto ao lançamento de sortes feita pelos apóstolos para saber quem seria o substituto de Judas no ministério apostólico?

21 É necessário, pois, que, dos homens que nos acompanharam todo o tempo que o Senhor Jesus andou entre nós, 22  começando no batismo de João, até ao dia em que dentre nós foi levado às alturas, um destes se torne testemunha conosco da sua ressurreição. 23  Então, propuseram dois: José, chamado Barsabás, cognominado Justo, e Matias. 24  E, orando, disseram: Tu, Senhor, que conheces o coração de todos, revela-nos qual destes dois tens escolhido 25  para preencher a vaga neste ministério e apostolado, do qual Judas se transviou, indo para o seu próprio lugar. 26  E os lançaram em sortes, vindo a sorte recair sobre Matias, sendo-lhe, então, votado lugar com os onze apóstolos.” (Atos 1:21-26 RA)

É interessante que os apóstolos escolheram dois, mas não sabemos quantos se encaixavam nos critérios que eles mesmos definiram. Ora, por que eles não submeteram o critério a Deus? Será que Deus queria escolher um daqueles dois? Mas, como eles lançaram sortes, um deles seria escolhido, mesmo que nenhum dos dois fosse o escolhido de Deus. Fazendo assim, os apóstolos deixaram Deus sem outra opção. Eles fizeram o que acharam melhor e, do modo como ficou registrado no livro de Atos, parece que foi essa a escolha de Deus. Apenas parece.

Quando forçamos Deus a falar na hora que queremos, corremos o risco de agir segundo os nossos intentos achando que estamos cumprindo a vontade de Deus. Somente o desdobramento das situações da vida é que confirmarão, ou não, se a nossa escolha estava de acordo com a vontade de Deus.

Para que possamos compreender essa passagem, temos que lembrar que o livro de atos é um livro histórico e que é impossível interpretar cada versículo como uma ordem de Deus, mas apenas como registro de fatos ocorridos, fossem segundo a vontade de Deus ou não.

Para exemplificar, podemos citar o texto em que os apóstolos estão em grande contenda. Estaríamos, então, autorizados a praticar a contenda, já que os apóstolos fizeram isso? Ora, se um fato histórico não condiz com os ensinamentos de Jesus, devo considerá-los apenas como registro histórico, nada mais. E isso não significa que o registro histórico não tenha sido feito pelo Espírito Santo de Deus, já que toda a bíblia é inspirada. Desse entendimento resulta que pareceu necessário ao Espírito Santo de Deus registrar um fato histórico para o nosso conhecimento da verdade, ainda que retratem fatos que o Senhor reprova, senão vejamos.

Tendo havido, da parte de Paulo e Barnabé, contenda e não pequena discussão com eles, resolveram que esses dois e alguns outros dentre eles subissem a Jerusalém, aos apóstolos e presbíteros, com respeito a esta questão.” (Atos 15:2 RA)

Mas, para que não sejamos incautos, devemos analisar o desdobramento do fato histórico e avaliar se houve ou não uma aprovação de Deus naquele sentido. Por exemplo, está registrado no livro de Atos que alguns judeus praticavam a expulsão de demônios e que um dia tentaram fazer isso em nome de Jesus, mesmo sem serem seguidores de Jesus e de seus princípios. Se não fosse o desdobramento do texto, poderíamos pensar que a atividade espiritual cristã pode estar desconectada dos princípios de Jesus. Mas, o resultado mostrou que o mundo das trevas não se submetem àqueles que não têm autoridade sobre eles.

13 E alguns judeus, exorcistas ambulantes, tentaram invocar o nome do Senhor Jesus sobre possessos de espíritos malignos, dizendo: Esconjuro-vos por Jesus, a quem Paulo prega. 14  Os que faziam isto eram sete filhos de um judeu chamado Ceva, sumo sacerdote. 15  Mas o espírito maligno lhes respondeu: Conheço a Jesus e sei quem é Paulo; mas vós, quem sois? 16  E o possesso do espírito maligno saltou sobre eles, subjugando a todos, e, de tal modo prevaleceu contra eles, que, desnudos e feridos, fugiram daquela casa.” (Atos 19:13-16 RA)

Pois bem, vamos, então, analisar o desdobramento da escolha de Matias. Ele nunca mais foi citado em nenhuma das epístolas que se seguiram ao livro de Atos. Foi aprovado pela sorte dos apóstolos, mas o substituto escolhido por Deus foi Paulo, senão vejamos:

13 Ananias, porém, respondeu: Senhor, de muitos tenho ouvido a respeito desse homem, quantos males tem feito aos teus santos em Jerusalém; 14  e para aqui trouxe autorização dos principais sacerdotes para prender a todos os que invocam o teu nome. 15  Mas o Senhor lhe disse: Vai, porque este é para mim um instrumento escolhido para levar o meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel;” (Atos 9:13-15 RA)

A conclusão é: não podemos forçar Deus a falar. Se fizermos isso, corremos o risco de agir segundo os nossos intentos, achando que estamos cumprindo a vontade de Deus. Somente o desdobramento das situações da vida é que confirmarão, ou não, se a nossa escolha estava de acordo com a vontade de Deus. É por isso que não podemos abrir mão de analisar os resultados de nossa ações.

Jesus na sinagoga de Nazaré: cumpriu-se uma profecia. Houve consulta?

A leitura tendenciosa da palavra de Deus gera muitas distorções. Há quem afirme que quando Jesus abriu o livro de Isaías na sinagoga de Nazaré teria feito uma abertura aleatória, o que confirmaria a prática de consulta à palavra de Deus.

Vejamos o texto:

15 E ensinava nas sinagogas, sendo glorificado por todos. 16  Indo para Nazaré, onde fora criado, entrou, num sábado, na sinagoga, segundo o seu costume, e levantou-se para ler. 17  Então, lhe deram o livro do profeta Isaías, e, abrindo o livro, achou o lugar onde estava escrito: 18  O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, 19  e apregoar o ano aceitável do Senhor. 20  Tendo fechado o livro, devolveu-o ao assistente e sentou-se; e todos na sinagoga tinham os olhos fitos nele. 21  Então, passou Jesus a dizer-lhes: Hoje, se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir.” (Lucas 4:15-21 RA)

Uma leitura sincera do texto citado nos leva a reconhecer que Jesus procurou o texto que leria naquela oportunidade. Ao achar (encontrar), leu-o e, após fechar o livro e devolvê-lo, declarou que aquela profecia estava se cumprindo nele.

Não houve, portanto, nenhuma prática de sortear um texto qualquer das sagradas escrituras.

Consulta à palavra ou bibliomancia?

A prática de consulta a oráculos por meio de sorteio de textos de um livro sagrado não é uma novidade criada há 40 anos pela Igreja Cristã Maranata. Há 3.000 anos os chineses utilizam um livro sagrado chamado “I Ching” ou “Livro das Mutações” para saber a vontade dos deuses na solução de suas questões.

Segundo consta da Wikipédia[1], o “I Ching” é um texto clássico chinês, composto de várias camadas sobrepostas ao longo do tempo. Trata-se de um dos mais antigos textos chineses que chegaram até nossos dias. “Ching, significando clássico, foi o nome dado por Confúcio à sua edição dos antigos livros. Antes era chamado apenas “I”: o ideograma “I” é traduzido de muitas formas, e no século XX ficou conhecido no ocidente como ‘mudança’ ou ‘mutação’.

O livro sagrado chinês tanto pode ser lido e estudado quanto pode ser usado como oráculo. E como todo oráculo, segundo a tradição, “exige a aproximação correta: a meditação prévia, o ritual, e a formulação precisa da pergunta. Segundo os chineses, o oráculo nunca falha. Quem falha é o consulente: se a pergunta não foi clara e precisa, isto indica que a pessoa não tem clareza sobre o que deseja saber. O ritual tem a função psicológica de focar a atenção da pessoa na consulta”.

Bibliomancia, segundo o dicionário Aurélio, é “adivinhação por meio de um livro que se abre ao acaso”. Conforme consulta à Wikipédia[2], “é a prática que procura por respostas a questões pessoais, mas já foi usada para tentar compreender o significado da vida e da realidade, lendo passagens aleatórias em qualquer livro, mas principalmente na Bíblia, I Ching e em dicionários”.

Como se vê, o termo bibliomancia se aplica à prática de consulta à palavra. Não se trata de uma referência pejorativa, mas de uma significação comumente conhecida para se ter um conhecimento do acaso.

A semelhança da consulta à palavra de Deus com o I Ching não diz respeito apenas à questão da aleatoriedade da consulta a um “livro de sabedoria” considerado religioso, mas ao fato de que todos aceitam essa prática como infalível. Se não der certo, a culpa é de quem consultou e não do oráculo.

Não é uma atitude responsável colocar a culpa em Deus por nossas escolhas quando algo não dá certo: “foi Deus quem quis assim”. Temos que amadurecer e agir sem precipitação, com a cabeça no lugar, e assumir a responsabilidade por nossas ações. Deus nos fez homens livres para escolher. É insano abrir mão da liberdade que recebemos e deixar o Soberano decidir se compramos um carro ou não. Todos têm em suas vidas vários exemplos bons e ruins para contar. A vida é cheia de acertos e erros. Só não é razoável colocar a responsabilidade de tudo que fazemos em Deus.

No caso específico da consulta à palavra, acredita-se que essa prática só pode dar errado se o consulente não estiver em comunhão com Deus, ou estiver em pecado, fazendo uma consulta segundo o seu coração. Como essa situação é de difícil constatação, quando se nota a infelicidade decorrente da consulta à palavra, resta apenas a presunção de que havia algo errado na vida do consulente, pois a consulta dentro de certos padrões não pode falhar.

Mas, um olhar observador denunciará que há muitos casos em que os padrões espirituais são atendidos e os resultados são catastróficos. Isso ocorre quando a consulta parte de um grupo considerado espiritual e os resultados da consulta são desanimadores. Nesse caso, ninguém comenta o assunto ou diz que essa foi a vontade de Deus, já que a consulta não poderia ter falhado.

Por exemplo: em 1990 eu e minha esposa consultamos à bíblia para comprar um carro semi-novo em uma boa loja de automóveis da cidade. Fiz tudo certinho e não demos a resposta ao vendedor antes de “consultarmos para saber se Deus permitia aquele negócio”.  Quando fui transferir o carro, fiquei sem ele, pois era roubado.

Naquele tempo, eu já era obreiro da ICM e a única justificativa que encontrei, já que minha vida estava em ordem, foi: “eu estava ansioso pelo negócio e Deus falou segundo o ídolo que estava em meu coração”. Essa foi a explicação que eu dei durante anos a fio. Hoje, penso diferente. Se consultando, ou não, a culpa seria minha mesmo pelo insucesso do negócio, para que a consulta? Se eu não tivesse consultado, pelo menos assumiria o meu erro e não envolveria o Soberano nesta questiúncula. O fato é que temos que amadurecer e ser mais responsáveis, agindo sem precipitação, com a cabeça no lugar e nos responsabilizando pelas nossas ações.

Como eu tenho vários exemplos bons e ruins para contar, empatou! Ou seja, a vida é cheia de acertos e erros. Só não é justo colocar a culpa em Deus quando erramos ou fingir que não sabemos que a consulta falhou ou não serviu para nada, quando isso acontece.

Consulta à palavra de Deus para a confirmação de um dom espiritual

O primeiro ponto a ser analisado é: uma vez que temos dois eventos que dependem de uma ação do Espírito Santo (o dom espiritual e a consulta à palavra), qual delas tem mais valor? A operação que concedeu a visão, por exemplo, ou a que nos fez abrir a bíblia em um determinado texto?

Consultar a bíblia para saber se um dom espiritual vem de Deus é uma fuga da ordenança bíblica de provar os espíritos. Deus ordenou que o homem provasse os espíritos, com discernimento, e não disse para que “o Espírito provasse os espíritos”. O que acontece na consulta à palavra é exatamente isso: preciso de uma operação sobrenatural para confirmar outra operação sobrenatural.

O fato é que essa pergunta não pode alcançar uma resposta lógica, nem mesmo razoável. Se eu creio que a segunda operação é infalível, por que não crer que a primeira também o seja? E se o primeiro “mover do Espírito” não foi confiável, qual a razão para crer que o segundo será? Como crer que a segunda operação é infalível enquanto se crê que a primeira é duvidosa?

Há, então, uma incoerência lógica de impossível de conciliação.

Mesmo assim eu creria nisso, se a palavra de Deus ordenasse tal prática – expressamente. Porém, não há nem no Novo Testamento nem no Velho qualquer orientação ou fato histórico que fundamente essa prática de se consultar a Deus, utilizando o livro sagrado (oráculo) para saber se um operação do Espírito Santo é realmente do Espírito Santo.

É preciso insistir: por que a primeira operação é questionável e a segunda não, uma vez que as duas operações devem ser igualmente espirituais? Tanto uma como a outra não depende de uma operação sobrenatural de Deus? A resposta é: as duas operações devem ser sobrenaturais, mas na segunda operação você não deixa alternativa para Deus – “ou Ele fala ou Ele fala”.

No caso de uma visão você pode até se convencer de que foi apenas uma imaginação, mas a leitura do texto bíblico não deixa dúvidas – está escrito, é só ler! Todas as vezes que alguém abrir bíblia aleatoriamente, invariavelmente, terá um texto lá para ler. Desse modo, Deus não tem como se negar a falar, não é mesmo?

Sobre essa primeira colocação, com todo respeito por quem pensa diferente, cremos que é um ato de fuga da ordenança bíblica de provar os espíritos. Deus ordenou que o homem provasse os espíritos, com discernimento, e não disse para que “o Espírito provasse os espíritos”. O que acontece na consulta à palavra é exatamente isso: precisa-se de uma operação sobrenatural para confirmar outra operação sobrenatural.

É até compreensível que alguém ache na consulta à palavra uma maneira mais fácil e cômoda de se provar os espíritos, pois tudo o que se tem a fazer é julgar se um texto é “positivo”  ou “negativo”. Isso é muito mais fácil do que ter que exercitar o discernimento de espíritos, pois, para provar espíritos o homem tem de ser espiritual. Abrindo aleatoriamente a bíblia, ainda que aquele que a consulta não seja espiritual, ou não esteja em comunhão com Deus, terá apenas que avaliar um texto e depois afirmar que “Deus falou”, afastando a sua responsabilidade pelo acerto ou pelo erro que disso decorrer.

O risco disso tudo é: o mesmo espírito que atuou na primeira vez (concedendo o dom) pode atuar na segunda vez (consulta). Desse modo, é possível a aprovação de um dom procedente da mente humana (imaginação) ou mesmo de espíritos malignos que buscam a manipulação.

 O segundo ponto é: seria razoável o homem obrigar Deus a falar na hora que ele quer (abrindo a bíblia)?

Quando alguém abre a sua bíblia ao acaso e pede que Deus lhe fale algo naquele exato momento, torna-se um manipulador de Deus. O soberano fica obrigado a lhe falar algo naquele mesmo instante, mesmo que ele não queira. O homem se torna Senhor e Deus um servo ao seu dispor.

Se isso fosse possível, também seria viável exigirmos que Deus nos concedesse um sonho no dia em que nós desejássemos uma resposta sobre qualquer assunto. Ora, se o espírito que irá operar tanto em uma situação como na outra é o mesmo, por que não se pode forçar um sonho durante o sono?

Todos sabemos que não podemos exigir de Deus um sonho no dia que quisermos. Então, porque presumir que podemos obter Dele uma resposta na hora que quisermos? Isso é grave, porque na segunda hipótese deixamos Deus sem alternativa: “Ele tem que dizer algo”. E quem pratica a consulta bíblica, invariavelmente, fica com a impressão de que “Deus falou”. Quando se abre a bíblia, lá estará um texto para a leitura. Mas, a pergunta é: Deus falou?

Até mesmo quando se abre na página em branco, que fica entre os dois testamentos, é possível se chegar a uma conclusão acerca da vontade de Deus naquele momento: Deus não quer falar acerca deste assunto, levando o consulente a interpretar isso como uma forma negativa da expressão de Deus. Há algo errado! Deus está indisposto sobre esse assunto! É claro que há aqueles que, neste caso, não se conformam e abrem a bíblia até alcançarem a resposta que lhes satisfaça. Falta temor a Deus!

 ATENÇÃO! É bom que fique claro que Deus pode falar do modo como quiser, até mesmo por uma abertura aleatória da bíblia, mas isso seria uma exceção e não uma regra ou doutrina, segundo notamos nos textos bíblicos.

Deus é Deus e não depende das nossas regras para agir. Se Ele quiser falar conosco, falará de qualquer jeito, seja pela abertura da bíblia, seja por um mensageiro, seja por um para-choque de caminhão, seja por uma mula, seja por um livro evangélico etc.

“Eis que arrebata a presa! Quem o pode impedir? Quem lhe dirá: Que fazes?” (Jó 9:12 RA)

Mas, isso deve ocorrer quando Deus quiser e não quando o homem determinar. Sem sombra de dúvidas, o mesmo Espírito de Deus que pode falar pela palavra, pode mover-se no nosso espírito para nos fazer entender que é Ele quem quer falar ou que está falando. Quem duvida disso, deve, também, duvidar de tudo o mais.

Assim, o homem pode receber em seu espírito uma ordem de Deus para abrir a bíblia. Tudo o que ele terá a fazer é julgar esta ação espiritual e, dependendo da resposta desse julgamento, obedecer, certo de que Deus falará de modo sobrenatural do mesmo modo que operou no primeiro momento.

Se não for assim, a ordem das coisas estará invertida e seremos nós que diremos a Deus quando ele Deve agir e não o contrário.

Portanto, o único modo de não sermos enganados é conferindo o espiritual (dons e experiências sobrenaturais) com a palavra de Deus. Se uma coisa se encaixar na outra, então é de Deus!

Como consultar a Deus nos dias de hoje?

Tal como no passado, hoje temos os mesmos recursos para consultar a vontade de Deus. A mais eficaz de todas é a leitura e da palavra de Deus, que é viva e eficaz para discernir os intentos e propósitos do coração humano e que nos conduz ao conhecimento do Altíssimo e de toda a sua vontade para as nossas vidas.

Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração.” (Hebreus 4:12 RA)

Quando lemos e meditamos na palavra de Deus, em atitude de submissão, permitimos que o Espírito Santo de Deus opere em nossas vidas, guiando-nos por retas veredas.

E a palavra viva, vivificada pelo Espírito Santo de Deus, penetra em nós e aguça nossos sentidos espirituais, ajudando-nos a afastar ideias erradas e planos prejudiciais à nossa existência.

 A palavra de Deus, viva, é apta para nos ajudar a separar os pensamentos que são da nossa natureza carnal e da nossa alma (ideias, sentimentos, pensamentos e decisões) daqueles que fazem parte do projeto e da vontade de Deus. Por isso precisamos conhecê-la e não utilizá-la como amuleto ou como instrumento de sortes.

Quanto mais temos o conhecimento do Altíssimo, mais condições temos de fazer as escolhas corretas e decidir entre o certo e o errado; entre o bem e o mal; entre a verdade e a mentira; entre o puro e o herético, entre o conveniente e o inconveniente.

Era assim que Moisés dava resposta ao povo quando vinha a ele para decidir suas causas. Moisés, como conhecedor da vontade de Deus, declarava a justiça nas causas humanas segundo os estatutos e as leis de Deus. Ou seja, ao analisar uma demanda, Moisés a resolvia proferindo qual era a palavra de Deus sobre aquele assunto (Êxodo 18:14-16).

Muito mais condições nós temos hoje para saber tomar nossas decisões consultando sempre a palavra de Deus (não por sorte), já que temos um tesouro em nossas mãos (a bíblia).

Ao nos submetermos à vontade do Soberano, certamente, teremos ação do Espírito Santo para nos ajudar e a trazer luz e verdade sobre nós em nossas decisões, pois a letra mata, mas o espírito vivifica.

o qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica.” (2 Coríntios 3:6 RA)

Considerações finais

 Evidentemente, todas as pessoas dadas à consultar a bíblia terão a contar um grande número de experiências pessoais. Cremos em todas elas. Não questionamos a experiência pessoal de ninguém.

Heresia atrai heresia, tal como um abismo chama outro abismo (Sl 42:7). Quando nos lançamos à prática de alguma heresia, nos tornamos vulneráveis a várias outras.

Entretanto, é muito importante que se saiba que nenhuma experiência pessoal pode substituir a palavra de Deus. Se Deus disse claramente que é assim… assim é – não há o que acrescentar nem retirar. Mas, se Deus nunca disse que é assim, ficamos lançados à sorte e corremos o risco de sermos alvo da manipulação da nossa própria mente, da mente de outros homens e do Diabo.

A única segurança que temos no mundo espiritual é andar exatamente como nos ensina a palavra de Deus – “sem tirar nem por”, a exemplo do que Deus disse a respeito do livro do apocalipse:

18  Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testifico: Se alguém lhes fizer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os flagelos escritos neste livro; 19  e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que se acham escritas neste livro. 20 Aquele que dá testemunho destas coisas diz: Certamente, venho sem demora. Amém! Vem, Senhor Jesus! 21  A graça do Senhor Jesus seja com todos.” (Apocalipse 22:18-21 RA)

Como vimos, é muito arriscado andarmos praticando doutrinas acrescidas à palavra de Deus ou abraçando distorções de textos bíblicos para adequá-lo às nossas próprias práticas. Essa é a fonte de todas as heresias até hoje noticiadas e que se utilizam da bíblia como referência. Se há alguém que tem grande interesse no erro e na destruição do crente, não é Deus.

O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento. Porque tu, sacerdote, rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos.” (Oséias 4:6 RA)

“Respondeu-lhes Jesus: Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus.” (Mateus 22:29 RA)

Se em qualquer das cartas de Paulo ou de outro apóstolo, dirigida à igreja, tivesse sido registrado algo parecido com: “consultai por sorteio as escrituras sagradas antes de decidirem qualquer negócio particular ou eclesiástico”, nós seríamos os primeiros a defender essa prática.

Mas, como não existe nenhum texto bíblico, nem parecido com o que referimos, fica o alerta de Paulo:

8 Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. 9  Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema.” (Gálatas 1:8-9 RA)

A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós.

[1] http://pt.wikipedia.org/wiki/I_Ching. Consulta em 28/4/2011.

[2] http://pt.wikipedia.org/wiki/Bibliomancia. Consulta em 28/4/2011.