Seitas, a saída é SAIR

Seitas, a saída é SAIR

15 de dezembro de 2020 6 Por Sólon Pereira

Após o escândalo sobre desvios de dízimos de uma respeitável denominação evangélica brasileira, inclusive com a prisão de seus principais líderes, recebi mensagens de pessoas ligadas àquela denominação que procuravam demonstrar que isso não as estava afetando. Declaravam que estavam cientes do erro cometido por algumas pessoas da liderança da igreja, mas que preferiam continuar lá basicamente pelos seguintes motivos:

  • A denominação não é culpada pelo erro de seus líderes e está providenciando a disciplina de todos aqueles que falharam;
  • Estão bem onde estão, obedecendo ao Senhor e não a homens. O pastor local prega o evangelho. Estão realizando a “Obra do Espírito Santo” e vivendo muitas experiências. Sentem a presença de Deus e gozam de muita comunhão com Deus, além de gostarem muito dos louvores ali entoados. Em cada igreja local Deus tem operado de modo especial e os problemas da cúpula não os têm afetado;
  • Não adianta mudar de denominação, pois em qualquer outra há falhas, uma vez que o todas são compostas por homens, que são, naturalmente, falhos;
  • É melhor ficar onde estão porque as outras denominações são muito piores. Se saíssem de onde estavam, para onde iriam? Para um movimento? Para uma tradição? Para o mundo? Entre ficar em uma denominação boa, mas com problemas como qualquer outra, e ir para o mundo, a primeira opção seria incomparavelmente melhor;
  • As pessoas que saem, mostram-se desobedientes ao Senhor e acabam perdidas e, muitas, ficam revoltadas e com sérios problemas;

Em 2013 fiz uma avaliação sobre essas questões, mas hoje vou apenas resumir as questões principais porque percebi que esses fatos nada mais são do que a confirmação do que escrevi recentemente acerca o sistema religioso.

Sobre a primeira questão, notei que o tratamento conferido a alguns líderes que chegaram a ser presos por envolvimento no referido desvio de dízimos continuaram exercendo suas funções, direta ou indiretamente. Alguns, inclusive, voltaram a dar aulas em seminários, com total autoridade e preeminência sobre o grupo de fieis.

Isso não deveria incomodar ninguém, se tal tratamento fosse a regra de tratamento dispensada a todos os membros. Entretanto, parece que o rigor da disciplina, com afastamento definitivo de funções, é dirigido apenas àqueles que não sejam “amigos do rei”.

Dois pesos e duas medidas

Dois pesos e duas medidas? Nada mais comum no sistema religioso.

Entretanto, para a igreja de Jesus, nada é mais injusto do que alguém que não usa o mesmo critério para tratar pessoas que se encontram em iguais condições. A palavra de Deus sempre foi radicalmente contra esse tipo de comportamento.

“10 Dois pesos e duas medidas, uns e outras são abomináveis ao Senhor.” (Provérbios 20:10)

“11 Peso e balança justos pertencem ao Senhor; obra sua são todos os pesos da bolsa.” (Provérbios 16:11)

Certamente, cada membro com mais tempo dentro do sistema religioso já observou que há pesos desiguais em alguns julgamentos e decisões de sua liderança. Isso pode ser notado nas ocupações de cargos na igreja e na disciplina que parece mais dura com uns do que com outros. Obviamente, todas essas injustiças se transformam em “justiças”, sob o manto da “revelação”, de modo que todos passam a crer que essa é a vontade de Deus. Assim, quem ousa questionar?

Sua experiência x sua bíblia

O segundo questionamento da nossa lista envolve experiências espirituais individuais dos integrantes do sistema religioso e, por isso, é o ponto que causa maior bloqueio no entendimento das pessoas. Esta leitura, portanto, não é recomendável para quem acha que suas experiências têm mais valor que os registros bíblicos.

Assim, somente prossiga nesta leitura se você gostaria de submeter suas sensações e experiências pessoais ao teste das escrituras sagradas.

A primeiras perguntas que devem ser feitas a si mesmo são as seguintes:

1) eu realmente aceito e pratico os ensinamentos de Jesus?

2) eu sou capaz de rejeitar um ensinamento ou uma prática religiosa que não esteja em concordância com as escrituras sagradas, ainda que esses ensinamentos ou essas práticas sejam orientadas por minha liderança religiosa?

“Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema.” (Gálatas 1:8 RA)

Vamos fazer um teste?

O que você acha sobre um irmão arrastar outro irmão para um Tribunal terreno?

Sobre esta questão, tente se lembrar de tudo o que você já aprendeu com a bíblia sobre amor, justiça, vingança, paciência e perdão.

Vamos lembrar o que Jesus e Paulo nos disse sobre essas questões:

“28 (…), perguntou-lhe: Qual é o principal de todos os mandamentos? 29  Respondeu Jesus: O principal é: (…) 30  Amarás, pois, o Senhor, teu Deus (…) 31  O segundo é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes.” (Marcos 12:28-31 RA)

“38 Ouvistes que foi dito: Olho por olho, dente por dente. 39 Eu, porém, vos digo: não resistais ao perverso; mas, a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra;” (Mateus 5:38-9 RA)

“1 Aventura-se algum de vós, tendo questão contra outro, a submetê-lo a juízo perante os injustos e não perante os santos? (…) 4  Entretanto, vós, quando tendes a julgar negócios terrenos, constituís um tribunal daqueles que não têm nenhuma aceitação na igreja. 5  Para vergonha vo-lo digo. Não há, porventura, nem ao menos um sábio entre vós, que possa julgar no meio da irmandade? 6  Mas irá um irmão a juízo contra outro irmão, e isto perante incrédulos! 7  O só existir entre vós demandas já é completa derrota para vós outros. Por que não sofreis, antes, a injustiça? Por que não sofreis, antes, o dano? 8  Mas vós mesmos fazeis a injustiça e fazeis o dano, e isto aos próprios irmãos!” (1 Coríntios 6:1, 4-8 RA)

se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas.” (Mateus 6:15 RA)

“21 Então, Pedro, aproximando-se, lhe perguntou: Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes? 22 Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete.” (Mateus 18:21-22 RA)

Agora, por meio de acesso à internet, faça uma pesquisa nos Tribunais de Justiça e Trabalhistas do seu Estado e veja a quantidade de igrejas processando seus ex-membros, e vice-versa.

Reflita… você acha razoável procurar algum outro texto bíblico para tentar justificar o descumprimento dos referidos ensinamentos de Jesus e de Paulo?

Se sim… não prossiga nesta leitura, será inútil para você.

Mas, se você é capaz de ouvir, humildemente, antes de se irar, passou no primeiro teste e será capaz de ouvir o que eu vou dizer sobre o experimentalismo religioso que se sobrepõe às escrituras sagradas.

A única fonte segura para que tenhamos certeza da operação e aprovação de Deus é a sua santa palavra. Qualquer fato que atue nos seus sentidos ou ao seu redor, ainda que seja real e sobrenatural, deve ser rechaçado se não estiver em harmonia com as escrituras sagradas. Veja o vídeo “Dons Espirituais (parte-1)” que está em nossa sessão de vídeos e você verá diversos exemplos que o ajudarão a entender esta questão.

O fato é que se você permanece em um sistema religioso porque Deus está falando com você nesse lugar e não se importa com o que Deus falou à sua igreja sobre honestidade, verdade, amor, justiça, vingança, paciência e perdão…, isso significa que o Deus da bíblia não é o mesmo deus que está falando com você.

Na verdade, sua experiência pessoal com esse “deus” parece ser tão forte que tem levado você a desprezar importantes textos bíblicos, que são a expressão de vontade do soberano Senhor!

Vamos ao segundo teste?

Se um cristão católico carismático, por exemplo, relatasse a você suas sensações e experiências espirituais sobre como Maria fala com ele ou sobre como Maria concedeu o falar em línguas estranhas no ambiente católico, inclusive com operação de milagres, o que você pensaria?  

Foi Deus quem falou? Se você acha que não, responda: por quê?

Imagino que sua resposta seja: não pode ter sido Deus falando e operando, porque essas manifestações não estão amparadas por textos bíblicos.

De igual modo, estou certo que se você assistisse o vídeo “Dons Espirituais (parte-1)” iria rejeitar prontamente as experiências ali relatadas, porque estão descoladas dos textos bíblicos que todo crente conhece. Mas, o fato é que não podemos negá-las.

O mesmo ocorre com qualquer outro religioso que fundamente a sua fé em “experiências pessoais com Deus”, seja no budismo, no espiritismo, no candomblé, na seicho no ie etc.

Por isso, quando tentamos comunicar algumas verdades bíblicas a essas pessoas, somos considerados ofensivos e agressores de sua fé, porque eles estão fechados para qualquer tentativa de confronto do experimentalismo com as escrituras sagradas.

Esta é a grande dificuldade que temos, por exemplo, para falar do “único caminho” (Jesus) a um católico carismático. Ora, se ele tem uma experiência pessoal em que Maria falou com ele, provavelmente nenhum texto bíblico o convencerá de que sua experiência não se coaduna com a palavra de Deus.

Por essa razão, se alguém diz que está bem e feliz onde congrega e que deus está operando em sua vida, nem mesmo as notícias de corrupção da liderança serão suficientes para fazê-lo enxergar que suas experiências pessoais estão se colocando acima da Palavra de Deus.

Procure ser honesto! Você realmente acha que a operação de línguas em uma reunião católica carismática afronta mais a palavra de Deus do que a prática da injustiça?

Portanto, a ira de Deus é revelada do céu contra toda impiedade e injustiça dos homens que suprimem a verdade pela injustiça (Romanos 1:18 NVI)

Vamos pensar! Não use dois pesos e duas medidas!

Se o fundamento da sua fé é a bíblia, use-a com coerência e valore igualmente todo o seu conteúdo. Evidentemente, isso não acontece com os integrantes do sistema religioso, que escolhem seguir e valorar apenas os textos que confirmem suas práticas e experiências pessoais.

Do mesmo modo que muitos evangélicos ignoram os textos bíblicos que confrontam suas práticas, os católicos, os espíritas e os umbandistas que fazem oferendas aos seus ídolos também não aceitam os registros bíblicos que negam seus rituais. Aqueles que obtiveram, por exemplo, cura ao fazer oferendas ao seu “santo” certamente ficarão ofendidos se você mostrar a eles o que o apóstolo Paulo disse a esse respeito:

“19 Que digo, pois? Que o sacrificado ao ídolo é alguma coisa? Ou que o próprio ídolo tem algum valor? 20  Antes, digo que as coisas que eles sacrificam, é a demônios que as sacrificam e não a Deus; e eu não quero que vos torneis associados aos demônios. 21  Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios; não podeis ser participantes da mesa do Senhor e da mesa dos demônios.” (1 Coríntios 10:19-21 RA)

O que fazer então? Quem é sábio, entenda! O fato é que temos de fazer uma escolha.

A escolha

Para quem decidiu crer no que está registrado na palavra de Deus, terá de rejeitar diversos tipos de comportamentos e práticas supostamente espirituais, mesmo que isso contrarie sua razão, sua lógica, seus sentidos e o seu coração, porque, segundo a bíblia, o coração humano se engana frequentemente (Jeremias 17:9).

Então, eu devo deixar o sistema religioso, mesmo que ali haja abundantes manifestações de “dons espirituais”? Mesmo que eu tenha vivido ali muitas experiências pessoais sensoriais e sobrenaturais?

Seja sincero.

Se você compartilhasse o evangelho com um espírita ou mesmo com um católico carismático e ele lhe dissesse que está bem onde está; que tem muita comunhão com Deus e com seus fraternos; que seu líder é comprometido com o evangelho de Jesus; que ele é um cristão praticante da palavra de Deus; que onde ele está sente-se servindo a Deus; e que ele tem muitas experiências inegáveis com Deus… você ainda assim diria para ele sair de onde está?

Se sim, por quê?

Porque você tem convicções bíblicas diferentes e, segundo o que compreendeu das escrituras sagradas, os outros estão equivocados, apesar de suas experiências pessoais. No fundo de seu coração você acredita que essas pessoas estão no caminho errado, pecando contra Deus em pontos fundamentais de sua santa palavra.

Então, se você percebeu que também está praticando ou sendo conivente com diversas práticas antibíblicas do sistema religioso, por que acha um absurdo o conselho para que você saia dele?

Lembre-se de uma coisa: do ponto de vista de Jesus e da salvação, não há diferença entre um feiticeiro (espírita), um idólatra e um homem que odeia e ofende o seu irmão, por exemplo. Todos estes incorrem em erros de mesma gravidade, senão vejamos:

“10 Nisto são manifestos os filhos de Deus e os filhos do diabo: todo aquele que não pratica justiça não procede de Deus, nem aquele que não ama a seu irmão. ” (1 João 3:10)

“14 Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras [no sangue do Cordeiro], para que lhes assista o direito à árvore da vida, e entrem na cidade pelas portas. “15 Fora ficam os cães, os feiticeiros, os impuros, os assassinos, os idólatras e todo aquele que ama e pratica a mentira. ” (Apocalipse 22:14-15)

Se você percebeu que sua prática religiosa não faz de você uma pessoa melhor do que aquela que faz coisas que você condena, então há esperança para você!

O que lhe prende?

Sobre as três últimas questões apresentadas no início deste texto, parece que estão ligadas ao comodismo ou ao aprisionamento do sistema religioso. Sabemos que apontar a falha dos outros não reduz as nossas. Mas, o fato é que as comparações são sempre feitas entre igrejas que integram o mesmo sistema religioso – sim, aqui é ruim e ali parece pior.

Mas, se as comparações fossem feitas entre uma integrante do sistema religioso e a igreja de Jesus, certamente as coisas seriam diferentes. É possível perfeitamente concordar que mudar de igreja dentro do mesmo sistema religioso é inútil. Mas, o que estamos tentando mostrar é que, para quem deseja ser orientado pela Palavra de Deus, a opção é sair do sistema religioso e não mudar de igreja dentro do sistema.

Sei que isso pode parecer duro, mas estar em qualquer denominação integrante do sistema religioso, não faz muita diferença. Cada um tem a sua idolatria. Uns adoram imagens de pedra e de madeira, outros adoram o dinheiro, outros adoram suas denominações, outros adoram seus líderes, outros adoram a si mesmos, mas todos idolatram o sistema religioso corrupto, cheio de vaidades, soberbas, egoísmo e amor próprio exacerbado.

Portanto, A SAÍDA É SAIR! 

Isso é perfeitamente possível! Sugiro a leitura do texto que escrevemos sobre o sistema religioso, onde mostramos que só é possível sair do sistema quando o sistema sai de dentro de nós. Caso contrário, vamos esperar a água ferver.

Vou ilustrar:

Se um sapo for jogado num recipiente com a água já fervendo ele salta imediatamente para fora. Sai ferido, mas vivo.

Entretanto, estudos biológicos mostram que um sapo colocado num recipiente com a mesma água de sua lagoa, fica estático durante todo o tempo em que aquecemos a água, mesmo que ela ferva. O sapo não reage ao gradual aumento de temperatura (mudanças de ambiente) e morre quando a água ferve. Inchado e feliz.

Se você não tomar uma atitude, seja por medo ou acomodação, terá de aceitar o resultado de sua escolha. Infelizmente, muitos, quando se dão conta do que está acontecendo, já estão prestes a morrer, boiando, estáveis e apáticos, na água que se aquece a cada minuto.

Por fim, quanto àqueles que pensam quem sai do sistema religioso fica perdido, revoltado e com sérios problemas, é bom lembrar que grande parte dos conflitos de quem sai nada mais é que a erupção de tudo o que estava preso em seus corações. Quanto mais tempo ficam no sistema, mais dificuldades têm de se tornarem verdadeiros discípulos de Jesus no futuro.

Brasília-DF, em 2 de fevereiro de 2019.

Por: Pr. Sólon Pereira