A armadilha do sistema religioso

A armadilha do sistema religioso

14 de dezembro de 2020 0 Por Sólon Pereira

Vamos ilustrar o modus operandi do sistema religioso que enreda e escraviza pessoas sob a ilusão de que estão realizando a obra de Deus.

Antes desta leitura, retire o obstáculo dos seus conceitos e preconceitos para que você possa entender a advertência de Jesus, que nos foi oferecida de modo claro e simples.

Imagine uma família tradicional normal, onde os pais trabalham durante a semana, mas que todas as noites estão reunidos em casa e aos finais de semana sempre têm uma programação do tipo almoço com os parentes, passeio no parque, na pracinha da cidade, no riacho mais próximo, no clube, no shopping, no cinema, no aniversário do amiguinho dos filhos, no casamento de um amigo, enfim, uma família que tem sempre uma programação de lazer para que todos possam participar juntos.Como é absolutamente comum, em certos momentos de suas vidas há conflitos de relacionamentos, algum tipo de obstáculo à realização dos seus sonhos, dificuldades financeiras, pressões profissionais, alguma frustração com colegas de trabalho ou pessoas queridas, e até mesmo traições. Há, também, momentos de enfermidades e, às vezes, falecimentos de pessoas próximas. Todos esses fatos afetam a estabilidade emocional das pessoas e trazem reflexos sobre a família, naturalmente.

Fragilidade humana = oportunidade para o sistema religioso

Nos momentos de angústia, quando o desespero aperta, as pessoas precisam compartilhar sua dor, seu sofrimento, suas aflições e, normalmente, escolhem fazer isso com outras pessoas que lhes pareçam bem estruturadas, felizes, bem resolvidas, religiosas e capazes de ouvi-las e fornecer algum conforto ou palavra de encorajamento e de esperança.

Se conhecem alguém com essas características por perto, logo receberão o convite para levarem sua família para conhecer uma igreja. Em alguns casos, quando não conhecem alguém em especial, vão em busca de alguma igreja cuja propaganda já tenham visto em alguma oportunidade e que lhes pareçam uma boa opção para receberem um apoio espiritual.

Seja como for, ao chegarem na igreja, não percebem que há um sistema profissional lhes esperando. Tudo já está pronto para tirar proveito de suas fragilidades. Há uma rede armada com linhas imperceptíveis. Desde a porta, a recepção é sempre muito simpática e há muitas atenções voltadas para elas, mas tudo é feito com discrição. A música, o coral de vozes, a reverência, a organização, o comportamento e as roupas das pessoas, tudo parece atender a uma expectativa de como deve ser uma igreja onde Deus está presente e pronto para abençoar.

A rede está armada

Quando o ambiente se encaixa em suas expectativas sobre como deve ser o local onde Deus pode operar, os visitantes removem boa parte de suas camadas de proteção e ficam receptivas. Esse é o primeiro passo.

O segundo passo é enviar mensagens às mentes das pessoas que falem sobre suas necessidades.

Geralmente, as pessoas angustiadas querem ouvir aquilo que alente seus corações. Isso pode ser feito por meio das letras das músicas cantadas, pela mensagem do pregador e, em alguns sistemas religiosos mais maliciosos, por meio de “dons espirituais” especialmente preparados para criar uma ligação direta entre o deus que se apresenta e a expectativa dos visitantes.

Talvez você esteja pensando neste momento: mas isso não é bom?

Sim, todas as pessoas precisam de apoio nos momentos difíceis de suas vidas. É muito bom sermos bem recebidos em um ambiente amável, agradável e espiritual. É muito bom sentirmos que Deus se importa conosco, que não estamos sozinhos e que teremos, além de uma mão humana estendida, um mover sobrenatural de Deus para superarmos os obstáculos que estão imediatamente à nossa frente.

Mas, tudo isso seria ótimo se não fosse uma estratégia preparada para levar as pessoas a se entregarem a um sistema religioso preparado para escravizar suas vidas. Seria ótimo se não houvesse manipulação e engano, especialmente quando se fala, em nome de Deus, o que Deus não disse ou quando se induz as pessoas a oferecer ou a fazer o que Deus não requer delas.

Envoltos pela rede

Voltemos ao nosso exemplo. A família fragilizada que foi à igreja sentiu-se muito bem recebida e amada por Deus. E como gostou do ambiente, da música, da mensagem, das pessoas e do tratamento que lhe foi dispensado, ela se programa para voltar sempre que possível.

Com o passar de algum tempo, essa família começa a desejar estar integrada àquele grupo de pessoas, porque percebem que podem desenvolver relacionamentos saudáveis, agregadores e estar sempre ouvindo mensagens de apoio, de encorajamento e ouvindo testemunhos de como Deus operou para melhorar a vida das pessoas com as quais elas gostariam de ter como amigas. E tudo isso sem precisar de bebidas alcoólicas para que o ambiente seja alegre e descontraído.

O início do aprisionamento

Essa família, então, passa a admirar as pessoas que estão em um patamar espiritual superior, de modo que começam a prestar atenção em tudo que fazem para estar naquele nível espiritual. Como estão receptivas, ouvem de bom grado os conselhos do que devem fazer para que Deus se agrade delas cada vez mais.

Então, essa família começa a enxergar uma escada espiritual e começa a se esforçar para subir cada degrau até chegar onde está aquele, ou aquela, que admiram.

A partir daí suas energias estão liberadas para obedecer ordens, como um bom soldado. Logo atendem ao chamado para participar dos mutirões, reuniões e seminários da igreja, contribuir financeiramente e atender as demais expectativas da liderança sobre o que devem fazer para ser um bom “servo de Deus”.

Ao longo dessa jornada, cada degrau que se sobe os leva a almejar atender os critérios da liderança em direção ao próximo degrau. Estar em posição de liderança, por exemplo, pode ser uma meta a se transformar em uma obsessão. Afinal, além do desejo de “servir a Deus”, os novos membros notam que os líderes são respeitados e amados por todos. 

Mais que isso, possuem prerrogativas diferenciadas, seja de lugares que se assentam, seja pela permissão exclusiva para a participação de algumas reuniões especiais, de estar mais próximo dos líderes superiores etc. Tudo isso parece bastante sedutor, especialmente em relação ao “poder” que podem exercer, algo muito sedutor. Quanto mais se sobe na hierarquia do sistema religioso, mais se tem poder de mando. E esse poder tem um pouco mais que o poder que se vê nas organizações seculares, porque é um poder especial, um poder dado por Deus, que dá ao homem uma autoridade toda especial sobre os outros.

Peixe na rede! A obediência é a regra principal!

A felicidade de se subir um mais um degrau na escada do sistema religioso é tamanha que as obrigações decorrentes das novas funções eclesiásticas parecem valer a pena. Ou seja, quanto mais alto, mais responsabilidades, mais reuniões, mais compromissos, mais comprometimento com as doutrinas particulares e mais exemplos tem que se dar. Cada degrau a mais implica em maiores expectativas sobre sua conduta, sobre sua aparência, sobre a apresentação de sua família, sobre o modo como pratica as doutrinas e regras da instituição etc. Enfim, para cada degrau há uma capa nova para vestir e, às vezes, uma máscara nova para colocar sobre sua face, para esconder suas fragilidades, seus problemas pessoais, seus conflitos internos e externos que, como eu disse no início, são comuns a todos os homens.

E a família, como vai?

Agora, imaginemos que a família do nosso exemplo chegou em um ponto elevado da escada do sistema religioso. Vamos imaginar que o pai seja o pastor de uma pequena congregação e que a sua esposa, a mãe, seja líder das irmãs.

Mas, ainda haja muitos outros degraus a subir, porque sempre há uma igreja maior que pode ser “conquistada” ou, quem sabe, uma coordenação de um grupo de igrejas, que dá ao pastor preeminência em toda uma cidade ou região, com visibilidade especial nos seminários nacionais ou em redes de televisão. Ou seja, há sempre algo mais a almejar…

Entretanto, quando olhamos novamente para essa família, percebemos que são raros os momentos em que estão fazendo seus passeios como faziam antes. Afinal, não há mais tempo disponível, porque são muitas reuniões e responsabilidades religiosas enlaçando cada membro da família. Eles estão muito ocupados e cansados, mas aparentemente felizes, porque a felicidade aparente faz parte da capa e da máscara que eles têm de ter no degrau em que se encontram.

Retroceder! Jamais! Deixar de atender as expectativas que estão sobre seus ombros é impensável! A opção é seguir em frente, ainda que haja perdas pelo caminho!

Sim, mas há muitas perdas pelo caminho…

O sentimento de culpa virá, inevitavelmente, seja porque o sistema nunca está satisfeito com o que você consegue oferecer, seja porque já se pode perceber que a família está tendo prejuízos… alguns irreparáveis…

Para piorar as coisas, há uma confusão entre atender as regras do sistema religioso e atender a expectativa de Deus. Ou seja, as pessoas passam a associar as duas coisas, de modo que deixar de corresponder ao sistema passa a ser um pecado contra Deus. Sem que elas tenham percebido, as suas mentes foram preparadas para obedecer às ordens eclesiásticas superiores como se fossem ordens do próprio Deus. E como aprenderam desde o início que desobedecer a Deus é pecado e implica em rejeição, castigos, morte e inferno, é preciso obedecer, ainda que as exigências sejam excessivas e que a família sofra por isso.

Jesus tirou o fardo?

Mas, isso vai tornando a capa cada vez mais pesada, não só por causa dos inúmeros compromissos do sistema, mas principalmente porque é cruel ter de representar o tempo todo. As angústias são semelhantes àquelas do passado, mas agora não se pode compartilhar com mais ninguém, porque isso seria um sinônimo de fraqueza, pecado ou esfriamento da fé. Sim, na posição em que se encontram, ninguém pode perceber suas reais situações. Se alguém notar, há um risco de se perder tudo o que lutaram anos para conquistar.

A pior situação de todas são as dos pastores remunerados pelo sistema religiosos. Por mais que eles percebam o quanto estão sendo apenas peças de um sistema cruel não podem nem mesmo pensar em mudar as coisas. Esses devem andar e pregar dentro das cartilhas da igreja e ainda fingir que estão contentes e que está tudo bem, porque sua própria subsistência depende do seu “emprego” eclesiástico. E como a pregação passa a ser seu meio de sustento, não há como deixar de realizar suas tarefas, ainda que estejam interiormente massacrados. Muitos pastores não têm com quem conversar e não podem “abrir o jogo”, nem com a igreja nem com suas lideranças. O sistema religioso não tem lugar para líderes fracos! As igrejas que possuem conselhos, por exemplo, logo demitem o pastor que não esteja bem ou que esteja apresentando os resultados esperados. O sistema é cruel! 

O pastor suicidou? E a família, como estava?

Hoje não é mais novidade alguma notícia de suicídio de pastores. Evidentemente, não podemos inferir nada sobre o sentimento ou a doença que estavam ocultos, mas podemos afirmar, com certeza, que havia alguma dor, sem tratamento, no íntimo do pastor e que ninguém percebia isso.

Há diversos casos em que os membros ficam espantados, porque o pastor estava pregando normalmente na igreja no dia anterior ao suicídio.

Também, não são raros relatos de filhos de pastores com problemas emocionais, revoltas contra o sistema religioso e culpando seus pais pelo desamparo em certos momentos de suas vidas. Para completar, são diversos os exemplos de casamentos desses pastores chegando ao fim, enquanto outros são mantidos apenas por conveniência, embora o compromisso matrimonial já tenha se perdido há muito tempo e por diversas razões.

Sustentar a capa e manter a máscara exigem muito desgaste e a família “feliz” é a maior prejudicada na maioria das vezes, até porque o sistema se coloca como algo mais importante do que a família. Uma reunião familiar jamais pode ser a justificativa para se deixar de participar de uma reunião do sistema religioso.

Virando as costas! A segregação e o MEDO!

E quando parentes questionam esse tipo de comportamento, logo o sistema promoverá o afastamento de seus membros dessas pessoas, porque, para se proteger, o sistema afasta o homem de seus parentes mais próximos, especialmente daqueles questionadores. Esses são perigosos já que podem abrir os olhos dos escravos do sistema.

A justificativa do sistema será sempre a mesma: se Jesus disse que veio para separar pais e filhos é porque ele não quer que ninguém atrapalhe a dedicação dos escravos do sistema religioso.

O isolamento do contexto familiar e social é um método sempre presente no sistema religioso, que faz com que as pessoas passem a estar integrados somente entre eles próprios. Isso afasta a possibilidade de alguém ser encorajado a abandonar o sistema. E se, ainda assim, alguém pensa em deixar o sistema, logo será desencorajado ao pensar que perderá todos os seus amigos de uma hora para outra. Isso porque todo bom sistema religioso induz seus membros a virarem as costas imediatamente para os eventuais desertores. Assim, o que saiu fica absolutamente perdido, enquanto os que ficaram serão protegidos de contatos que possam contaminá-los. Para tanto, é necessário apontar o desertor como um caído, pecador, desobediente etc. Evidentemente, essas coisas causam pânico em quem também já pensou em se desligar do sistema.

Então, como é que alguns conseguiram sair?

O que se pode notar nos tempos modernos é que, especialmente os jovens, são os primeiros a perceber o que está acontecendo. Não só porque suas mentes foram trabalhadas por menos tempo, mas porque a tecnologia tem sido um meio de exposição das mazelas do sistema religioso.

Em alguns casos, há sempre um integrante da família que, por meio das redes sociais, começam a ter acesso às experiências de outras pessoas que conseguiram “escapar” do presídio de segurança máxima chamado “sistema religioso”. Embora as redes sociais sejam também usadas para falsear realidades, ela tem sido um importante instrumento para lançar alertas sobre o que é o sistema religioso.

Evidentemente, como estamos falando de um sistema bem engendrado, há diversas estratégias para desestimular as pessoas a buscarem informações que não sejam aquelas repassadas pelo sistema de normas e doutrinas internas. Uma das estratégias é demonizar o ambiente virtual. Para tanto, o sistema aproveita-se dos diversos exemplos de pessoas que se perderam a partir do envolvimento pernicioso das redes de relacionamentos. Como bem sabemos, uma arma pode ser usada para o bem ou para o mal. Isso só depende de quem a tem em suas mãos. Uma pessoa com a mente de Cristo certamente saberá fazer bom uso de todas as coisas que lhe são lícitas e excluir as que não lhe convém.

Mas, como o sistema religioso conhece bem o seu gado, sabe que terá de monitorá-lo e decretar regulamentos de proibição de acessos e de relacionamentos em alguns casos. E quem desobedece suas ordens é punido publicamente com afastamento de funções e isolamento interno, de modo que se sintam envergonhados e com medo de se voltarem contra o sistema, porque aprenderam que questionar o sistema ou a disciplina imposta por sua liderança é questionar o próprio Deus soberano.

Outra estratégia muito usada pelo sistema religioso é dar exemplos de pessoas que saíram do sistema e morreram ou se perderam pelo caminho. Assim, o medo fica impregnado na mente dos membros do sistema que só de pensar em sair já ficam apavorados.

Saiu e caiu? O que caiu? O membro ou a máscara?

O que eles não percebem é que os que conseguem se libertar e acabam mal já estavam mal dentro do sistema, e por causa dele. Ou seja, o próprio sistema acabou com suas vidas e com suas famílias ao longo dos anos e ninguém percebeu. Mas quando um membro do sistema sai por iniciativa próprio ou é expurgado, normalmente jogam fora suas capas e suas máscaras, porque não precisam mais delas.

Assim, quando retiram a capa e a máscara, revelam quem esteve escondido por vários anos atrás do disfarce.

Por exemplo, o casamento que já estava sendo mantido como disfarce há muitos anos é desfeito após o casal deixar o sistema e perceber que não precisam mais usar a máscara e sustentar a capa da santidade, da fidelidade e do respeito que, na verdade, já não existiam há muito tempo.

Outro exemplo, o jovem que já estava sofrendo com tanta pressão dentro do sistema religioso, muitas vezes escondendo seus mais latentes desejos, ao sair do sistema percebe que não precisa mais de máscara, porque o que ele fazia escondido não será recriminado do lado de fora do sistema.

Assim, os que permanecem no sistema ficam com a impressão de que deixar o sistema religioso é a causa da loucura que toma conta dos “caídos”, quando na verdade o que caiu foi simplesmente a máscara que os que saíram usavam enquanto estavam dentro do sistema religioso, mas que escondia o que essas pessoas já eram antes de sair.

Se alguém NÃO chegou a carregar uma capa ou a colocar uma máscara enquanto estava dentro do sistema, quando sair nenhuma mudança será notada em sua vida. Essa pessoa dará sequência normal à sua vida e levará para o seu futuro tudo o que for proveitoso. Se aprendeu a amar a Deus e ao próximo, não há porque deixar de fazê-lo depois que sair. Se amava e respeitava seu cônjuge, isso não mudará simplesmente por estar fora do sistema. Se valorizava a família, continuará amando da mesma maneira.

Sair não é fácil, mas não é impossível...

Sim, é possível sair do sistema, mas para isso é preciso, primeiramente, que o sistema saia de dentro de nós. Se não fizermos isso, a saída física de uma denominação religiosa não significará a saída do sistema religioso.

Por exemplo, é muito comum ver pessoas saindo porque deixaram suas máscaras cairem enquanto elas ainda estavam dentro do sistema. Essas são expurgadas, sem piedade, e passam a viver um grande dilema, pois acreditam que o sistema era bom e elas é que eram más e indignas do sistema. Infelizmente, pessoas que nutrem esse tipo de sentimento de culpa, continuarão rastejando atrás do sistema que os expurgou, às vezes até a morte.

Outras pessoas saem do sistema, porque se sentiram injustiçadas em suas aspirações dentro do sistema. É o caso de homens que não conseguem alcançar os cargos que queriam e acham que são melhores que os outros que estão onde ele gostaria de estar. Essas pessoas, ao chegarem no limite de suas frustrações, abandonam a igreja que os controla, mas o sistema religioso continua latente em suas vidas, de modo que muitos irão procurar um sistema parecido, com características semelhantes daquelas de onde saiu, e onde eles possam tentar novamente realizar suas ambições religiosas.

Há, também, aqueles que se acham muito bons, mas injustiçados porque suas ideias não foram aceitas pelo sistema em que estavam. Esses irão buscar alguma justificativa para sair da igreja que estão e formarão suas próprias igrejas, dentro do mesmo modelo que idolatram, ou seja, nunca saíram do sistema, apenas querem erguê-lo em outro lugar.

A meu ver, se não compreendermos o que é o sistema religioso, jamais conseguiremos nos livrar dele. Seremos escravos para sempre. Nunca iremos gozar da liberdade para a qual Cristo nos libertou se nos deixamos submeter a jugo de escravidão como aqueles que não conseguem viver a graça porque não conseguem se desvencilhar da lei (Gálatas 5:1). Isso já aconteceu no passado, com os cristãos judaizantes e não é nenhuma novidade para nós. Ainda hoje temos igrejas que incluem em sua moralidade e em suas práticas diversos preceitos da Lei de Moisés, coisas que nem mesmo se aproximam dos ensinamentos de Jesus, mas que são muito úteis para prender os membros a rituais ou mesmo para dominá-los pelo medo de maldições.

Meu conselho, se é que alguém aceita o conselho de alguém que não tem expressão no “mundo evangélico” é: observe se você está em uma igreja ou em um sistema religioso. E se você perceber que está em um sistema religioso, melhor sair logo daí. Mas, só saia depois que o sistema sair de dentro de você, caso contrário você está fadado a pular para outro sistema religioso semelhante.

Se você já está com uma capa e com uma máscara, jogue isso fora enquanto é tempo. Talvez as pessoas se assustem quando enxergarem quem você realmente é, mas se ainda há sinceridade no seu coração e desejo de servir a Jesus, melhor fazer isso sem capa e sem máscara, porque o médico só consegue ajudá-lo se souber exatamente o que está acontecendo com você. Ninguém poderá ajudá-lo enquanto você estiver escondido atrás de um personagem.

Guarde esta mensagem: tudo o que você precisa para estar integrado à igreja de Jesus dificilmente estará dentro do sistema religioso, porque todo sistema religioso se sobrepõe a Jesus e faz de Cristo apenas mais um personagem de sua estrutura.

Que conselho absurdo!!!

É bom lembrar que Naamã teve dificuldade de aceitar um conselho simples de Eliseu, porque havia dentro dele uma expectativa sobre como o profeta deveria fazer para mover o poder de Deus. Ou seja, se o sistema está dentro de você, esta mensagem com um conselho simples poderá até revoltá-lo, porque talvez você não possa aceitar uma sugestão que não esteja de acordo com os seus conceitos sobre Deus e sobre a igreja.

Quando Filipe encontrou Natanael, lhe falou que havia encontrado o messias, aquele de que a lei e os profetas falavam. Ele disse que esse homem era Jesus, de Nazaré. Então Natanael logo retrucou: “e pode vir algo bom de Nazaré?” Isto é, dentro de sua expectativa religiosa não cabia um messias vindo de um lugar humilde e simples. Ele tinha a mesma visão que a maioria dos religiosos de sua época, que só aceitariam um messias que atendesse suas expectativas, talvez com uma imagem de um rei-libertador da pátria do jugo romano e, por isso, eles não perceberam que o messias já estava entre eles.

E como Jesus não se encaixou dentro do sistema religioso daquele tempo, passou a ser perseguido.

O sistema religioso já existia no tempo de Jesus!

Mas, sem medo das consequências, Jesus denunciou o sistema religioso, mostrando que seus integrantes não eram o que pareciam ser.

A santidade era uma simulação – Mt 23:5, 27

Os líderes tinham roupas de santidade, com filactérios largos e franjas longas, mas Jesus disse que essa santidade só servia para disfarçar a podridão que estava por dentro, comparando-os a sepulcros caiados.

A injustiça era uma realidade do sistema – Mt 23:2, 4

Os fariseus gostavam de se assentar “na cadeira de Moisés”, como grandes mestres da Lei, mas, não praticavam o que ensinavam. Ao contrário, eram exigentes demais com os homens, colocando fardos pesados em seus ombros, enquanto eram compassivos consigo mesmos.

Por isso, Jesus disse que eles pareciam justos, mas seus corações estavam cheios de hipocrisia e maldade.

A vaidade era visível em todos os ambientes que frequentavam – Mt 23:6, 7

Eles mesmos gostavam de ocupar lugares de honra nos banquetes e os assentos mais importantes nas sinagogas. Gostavam de ser saudados nas praças e de ser chamados ‘rabis’. O sistema é um palco de vaidades, onde tudo o que as pessoas fazem é para promoção pessoal, para serem vistos pelos homens. Por isso Jesus disse para seus discípulos fazerem suas orações em particular e a dar esmolas sem que uma mão soubesse o que a outra estava fazendo, em contraste com o que os fariseus faziam para se promoverem.

Por trás das capas havia muita ganância e cobiça ocultas – Mt 23:25

Jesus chamou os fariseus de hipócritas porque disfarçavam bem suas vidas cheias de ganância e de cobiça, como quem limpa somente o exterior do copo e do prato, enquanto o interior está contaminado.

O sistema é extremamente cuidadoso com sua subsistência, mas não com a essência – Mt. 23:23

Jesus questionou suas prioridades, porque os fariseus eram zelosos com dízimos e ofertas, mas não observavam questões mais relevantes como a justiça, a misericórdia e a fidelidade.

O sistema só leva as pessoas a servi-lo, mas não os conduz a Deus – Mt. 23:13

Jesus desmascarou o sistema religioso, cheio de mestres, mas que fechava o Reino dos céus, não somente para os líderes fariseus, mas para todos os seus seguidores.

A espiritualidade era dissimulada – Mt. 23:14

Jesus revelou que as visitas de oração na verdade eram desculpas para penetrar nas casas das viúvas e devorá-las. Coisas desse tipo acontecem frequentemente nos locais onde dons espirituais são utilizados para invadir a vida das pessoas e escravizá-las com sentimento de culpa caso não atendam o que “deus” está falando.

A família fica em segundo plano – Mc 7:10-12

Jesus condenou os fariseus ensinavam que se um homem deixasse de socorrer seus pais necessitados para entregar ofertas a eles, tal atitude estaria justificada. Isto é, o mestre deixou claro que a prioridade do sistema religioso estava invertida e que “deixar pai e mãe por amor de mim” não significava desonrar pai e mãe em benefício de um sistema religioso.

A evangelização só enche as igrejas, mas não o céu – Mt. 23:15

Jesus condenou o esforço evangelístico dos fariseus, os quais percorriam terra e mar para converter pessoas ao sistema que, ao final, os faria filhos do inferno.

Enfim, se você leu este texto até aqui, certamente notou que o sistema religioso não é uma novidade deste século e que Jesus já o havia condenado enquanto esteve aqui na terra.

Sim, se você agora percebe que está preso a um sistema religioso, eu tenho uma pergunta para fazer: você gostaria de sair?

Se sim, faça como Naamã que, após alguma relutância, decidiu aceitar a palavra de Eliseu e mergulhou sete vezes no rio Jordão, um rio que ele desprezava em seu coração, porque considerava que Deus deveria operar de um modo diferente.

O sétimo mergulho

Às vezes nós também queremos que Deus se encaixe em nossas expectativas, mas perceba uma coisa: se você ainda acha que as águas de Damasco são melhores, passe o resto de sua vida mergulhando nos rios de Abana e Farfar, até morrer. Se você acha que há algum tipo de interesse pessoal neste conselho, porque em sua mente está implantado o sistem aproveitador do sistema religioso, lembre-se: Eliseu não quis absolutamente nada de Naamã (2 Reis 5:15-16).

Mas, se você realmente quer mudar de vida, salvar sua vida, não se importe com o fato do mensageiro de Deus ser um pobre desconhecido, sem fama, e por não se encaixar em suas expectativas sobre ministério, igreja e Deus.

É bem possível que você pense assim: eu não posso aceitar um conselho desses, porque isso não faz sentido! A igreja é uma instituição de Deus!

Sim, é verdade! A igreja é uma instituição de Deus, mas o sistema religioso é uma instituição do Diabo, meticulosamente entabulada para escravizar pessoas, fazer delas marionetes e condená-las a uma vida de falsidades, com capa e máscara para ocultar suas mazelas.

O fato é que a igreja de Jesus e o sistema religioso são coisas distintas e excludentes, ou seja, se você está na igreja, você não pode estar no sistema religioso. Se você está no sistema religioso, você não está na igreja.

A igreja tem reuniões, a igreja tem liderança, a igreja tem compromisso com a palavra de Deus, a igreja tem cânticos e louvores de adoração, a igreja tem cooperação e a igreja tem falhas, porque é constituída por homens. Mas, uma coisa você nunca encontrará na igreja: o domínio de um homem sobre outro homem.

Se o lugar que você frequenta está repleto de vaidades e homens servindo a homens como escravos, certamente você está em um sistema religioso e não na igreja de Jesus.

Se o lugar que você frequenta tem uma aparência de perfeição, aparência de santidade exagerada, fardos pesados nas costas dos membros, ganância por dinheiro, cobiças ocultas, espiritualidade dissimulada com dons espirituais que só confirmam o que as lideranças querem, mensagens que colocam a família em segundo plano, isolamento social e orgulho dos membros em relação ao nome da igreja, não tenha a menor dúvida, você está em um sistema religioso e não na igreja de Jesus.

Portanto, meu irmão, mergulhe no rio Jordão. Largue a capa, jogue fora a máscara e mergulhe SETE VEZES. Não pare até que a pureza do evangelho de Jesus limpe completamente a sua vida e o liberte.  

EIS O SÉTIMO MERGULHO!

Eu sei que implantaram o medo e o sentimento de culpa em sua vida, mas tudo isso sai nas águas do rio Jordão. Não tenha medo!

Eu consegui sair, há quase 20 anos! E hoje estou aqui para encorajá-lo! O rio Jordão não é bonito como os rios de Damasco, mas restaura sua vida!

SAIA DO SISTEMA ENQUANTO VOCÊ PODE! QUANTO MAIS TEMPO PASSAR, PIOR.

Veja, também, o vídeo que gravei sobre este assunto.

Por: Pastor Sólon Pereira

Em, 27 de janeiro de 2019